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300

300

01/06/2010
Dias atrás, o piloto Rubens Barrichelo completou sua 300ª corrida de Fórmula 1.
Um feito de grande destaque, ainda mais considerando que esse número representa cerca de 36% de todas as corridas realizadas pela categoria até então.
Fiquei com esse número na cabeça, e lembrei-me da famosa Batalha das Termópilas, travada em 480 a.C. nas II Guerra Médica, entre gregos e persas. Lembra-se das aulas de história no colégio?
  
Conta a história que as cidades-estado gregas estavam à frente de uma ameaça Persa, sob o comando do Rei Xerxes, que trazia consigo um contingente em torno de 250 mil soldados. Para o conflito, o rei e general espartano Leônidas encontrou grandes dificuldades já que o exército persa se aproximava e os espartanos comemoravam as honrarias ao deus Apolo e o resto da Grécia comemorava os Jogos Olímpicos, o que impedia qualquer tipo de guerra naquele momento. Sem outros recursos, Leônidas partiu para o conflito com 300 homens de sua guarda pessoal.
  
Após estudar muito bem o terreno, escolheu Termópilas como o lugar ideal pra o combate, onde a superioridade numérica Persa não poderia ser usufruída, devido à pequena passagem que existe em Termópilas. A idéia é simples, e pode ser facilmente exemplificada, pensando num corredor de uma escola, onde somente 10 alunos podem passar lado á lado, sendo o resto limitado á velocidade em que andam os primeiros 10 alunos, por limitações físicas do local. E como um funil: aplicado em batalha, os milhares de persas não poderia entrar todos em combate ao mesmo tempo devido ao limite físico do terreno, sendo assim um combate não de números, mas de qualidade e valor militar.
  
As tropas gregas eram mestras no uso da formação de falange (Phalanx), ou seja, uma massa de soldados, alinhados em linha e colunas coesas, protegidos por um grande escudo e lanças apontadas para frente, tornando-se uma barreira virtualmente intransponível quando combatida frente á frente. Os persas, com roupas leves, lanças leves e flechas não conseguiam passar pela muralha grega, que lutava bravamente, onde não podiam ser flanqueados ou cercados devido ao terreno, portanto reduzindo brutalmente a vantagem dos números nitidamente maiores do exército Persa.
 
Porém, um grego de nome Ephialtes desertou para o lado Persa e informou Xerxes de uma passagem alternativa por Termópilas, que resultaria num flanqueamento das tropas gregas. Estava nítido que a derrota era certa agora. O combate foi brutal e os gregos foram empurrados para uma pequena montanha, enquanto seus números iam diminuindo cada vez mais. Os Espartanos eram soldados de elite, treinados desde criança para dar suas vidas por Esparta e assim iriam fazer. Após um tempo de violentíssimo combate, Leônidas, o rei Espartano, é morto e batalha, o que normalmente iria desmoralizar sua tropa, mas o contrário aconteceu, os espartanos lutaram bravamente para proteger seu corpo. É dito que, quando suas lanças quebraram, os Espartanos lutaram com suas espadas (xiphos) e quando estas quebraram, o combate foi com as próprias mãos e dentes. Até que o ultimo soldado espartano foi derrubado à flechadas.
 
O resultado disso tudo foi que os gregos conseguiram causar um grande impacto às tropas de Xerxes, matando dois de seus irmãos e enfraquecendo enormemente a força invasora Persa, onde em posteriores batalhas, os persas foram facilmente derrotados, inclusive no mar, forçando o fim da campanha invasora de Xerxes.
  
A grande disparidade numérica entre os combatentes levou a que a batalha terminasse, aparentemente, com uma vitória persa - muito embora os Gregos, antes de serem totalmente aniquilados, tenham conseguido infligir um elevado número de baixas e retardar consideravelmente o avanço dos Persas pela Grécia. A intervenção dos Gregos, para além de os levar a morrer como homens livres, e não como escravos persas, foi decisiva para o futuro do conflito, pois atrasou o avanço persa por três dias, assim permitindo a salvação de Atenas e, por conseguinte, da nascente Civilização Ocidental.
  
Isso nos traz inúmeras lições, como treinamento constante, aplicação tática, pensamento estratégico, entre tantas outras. Mas acredito que o mais importante esteja presente na tenacidade dos 300 de Esparta, que, mesmo contra todos os prognósticos, foram fiéis a sua missão e defenderam seu povo, sua família e sua liberdade.
  
E essa mesma história de tenacidade e senso de missão também é representada por Rubens Barrichelo. Coincidência ou não, para os ávidos pela numerologia, está aí o número 300 para estudo. Mas o fato é que Rubinho, criticado por grande parte do seu povo, é sim um grande ídolo da categoria, com a trajetória de um guerreiro que não cansa de desafios. Com exceção de Schumacher, de quem perdeu, e Jenson Button, com quem esteve disputando pau a pau, Barrichello esteve à frente de todos os companheiros de escuderia. Tem a admiração dos chefes de equipe e é quase idolatrado por Sam Michael (Willians) e Jack Stewart (Stewart).
  
300 GPs é uma marca sensacional que prova, acima de tudo, uma coisa que muita gente não admite: Barrichello é um grande piloto e, principalmente, é um cara bom no que faz. Isso tudo porque tem um senso de missão, de querer melhorar a cada dia e de dar o melhor para si e para a sua equipe.
  
Essa é a importância de termos uma missão naquilo que fazemos. É um objetivo que faz com que acordemos todos os dias querendo fazer mais e mais e melhor. Que nós também tenhamos a oportunidade de ter um número 300 (ou qualquer outro de tamanha relevância) em nossas vidas...
  
  
 
"Se você não for melhor que hoje no dia de amanhã, então para quê precisa do amanhã?"
Rabino Nahmam Bratslav