"Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor..."
 
Lançada em 1940 com grande êxito e regravada pelo grupo Novos Baianos mais de 30 anos depois, novamente com enorme sucesso, a música Brasil Pandeiro, de autoria do compositor Assis Valente, remete à possibilidade de um povo adormecido se levantar, arregaçar as mangas e lutar pelos seus ideais.
 
Com a atual crise política que o Brasil está vivendo, tenho ouvido muitas pessoas se queixando de que nosso país não tem jeito, que o povo não se preocupa com essas questões e que não é possível mudar a situação.
 
Ledo engano. Nos idos de 1970, prevalecia a Lei do Gérson, onde era possível - e permitido - "levar vantagem em tudo": tão conhecido jeitinho brasileiro. Hoje nós não aceitamos mais isso. Sentimo-nos revoltados com pessoas que se prevalecem de sua "esperteza" para furar uma fila, por exemplo. O que era aceitável 30 anos atrás, hoje não é mais permitido. Trata-se, até mesmo, de certa desonra.
 
Partindo dessa premissa, percebemos que é possível mudar.
 
Vivemos aqui, num "gigante adormecido, deitado eternamente em berço esplêndido". Cabe a nós fazer a diferença e mudar. "Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor"!
 
Como conta o navegador Amir Klink, é preciso aproveitar a oportunidade no momento em que ela se faz presente. "Já ancorado na Antártida, ouvi ruídos que pareciam de fritura. Pensei: será que até aqui existem chineses fritando pastéis??? Eram cristais de água doce congelada que faziam aquele som quando entravam em contato com a água salgada. O efeito visual era belíssimo. Pensei em fotografar, mas falei para mim mesmo: - ‘Calma, você terá muito tempo para isso...’ Nos 367 dias que se seguiram, o fenômeno não se repetiu. Algumas oportunidades são únicas."
 
Você pode até se perguntar: "mas qual é a direção correta?"
 
Sei que você tem a resposta. Certamente não podemos mudar o Brasil como um todo, nem de uma hora para outra. Mas podemos começar a trabalhar nosso pequeno universo, num círculo onde temos influência e podemos fazer a diferença. Podemos começar dentro de casa, com a família, na rua, na escola, no trabalho...
 
É um trabalho de formiguinha. Mas, como na "Lei do Gérson", com várias formiguinhas fazendo a sua parte, é possível erguer um sólido formigueiro. É uma tarefa árdua e demorada. Talvez, até mesmo, interminável. Mas que vai valer a pena.
 
Quando estudava na Aeronáutica havia um sargento que, percebendo o comodismo dos colegas, gritava em alto e bom som: "A Hora É Essa!!!".
 
E esse era o momento em que todos percebíamos que precisávamos fazer algo. Era uma grande correria nos alojamentos, onde nos preparávamos para fazer o que fosse preciso, dando o máximo possível de nós mesmos, ajudando os companheiros, sempre tendo em mente um objetivo que viria a beneficiar todo o grupo.
 
Lembrei-me agora do conto do Macaco e o Guru. O macaco jogou um coco, lá de cima do coqueiro, na cabeça de um guru que ali meditava. O homem pegou o coco, bebeu a água, comeu a polpa e guardou a casca para usar como tigela. Agradeceu e foi-se embora.
 
Então, precisamos entender que os acontecimentos vieram por algum motivo. Podemos escolher entre ficar brigando e discutindo, ou então entender a situação e tomar as nossas atitudes.
 
O que precisamos agora é descobrir o caminho e seguir adiante. Se estamos voltados para a direção certa, tudo o que temos a fazer é continuar caminhando. Às vezes, o caminhar é lento, mas o importante é não parar. Mesmo um pequeno progresso é um avanço na direção certa. E qualquer um é capaz de fazer um pequeno progresso. Se não podemos conquistar algo importante hoje, vamos conquistar algo menor. E continuar andando, sem olhar para trás! Afinal, não estamos indo nessa direção...
 
 
  
"O começo é a parte mais difícil do trabalho."
Platão