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A Importância da Ética

A Importância da Ética

01/10/2004
Ética é hoje uma palavra de ordem.  
 
Não há profissional ou empresa que não viva alardeando a necessidade de condutas moralmente irrepreensíveis.
Assim, em qualquer ato ou negócio a ética está ocupando um lugar ao lado da qualidade do produto ou serviço em questão, benefícios e vantagens, entre outros fatores.
 
“Fargo”, filme escrito a quatro mãos por Ethan e Joel Coen, é baseado em um ‘acontecimento real’ que tomou lugar na terra natal dos dois irmãos. O roteiro é extremamente interessante, a direção é fabulosa e as interpretações são perfeitas. A obra ilustra exatamente como a falta de ética, de moral e de bom senso podem levar à derrota profissional e à perda de parâmetros de avaliação das próprias potencialidades.  
 
Vencedor dos Oscars de Melhor Roteiro adaptado e de Melhor Atriz, o filme mostra como inovar naquilo que a maioria realizaria sem criatividade.  
 
A narrativa é bastante simples. Jerry Lundegaard é um homem desesperado. Ele precisa urgentemente de dinheiro - muito dinheiro - para financiar um projeto que idealizou. Sua esposa, Jean, é filha de um homem muito rico. Seu sogro, extremamente arrogante, nunca lhe emprestaria a soma de que necessita. Assim sendo, ele resolve contratar dois marginais para que seqüestrem sua esposa a fim de que ele possa cobrar um milhão de dólares como resgate (os dois bandidos pensam que o resgate será de apenas 80 mil dólares). Porém, tudo sai errado e três pessoas são mortas.  
 
É então que conhecemos a chefe de polícia Marge Gunderson (interpretada pela vencedora do Oscar, Frances McDormand), que passa a investigar as mortes que aconteceram em sua cidadezinha. E não é que ela facilmente acaba chegando até o assustado Jerry? Aliás, é aí que o filme ganha ainda mais força: à medida em que as coisas vão ficando mais complicadas, o pobre homem se depara com vários obstáculos que tem que superar rapidamente antes se compliquem ainda mais. Mas elas não param de se complicar. O que fazer, por exemplo, quando seu sogro resolve entregar pessoalmente o dinheiro do resgate?  
 
Frances McDormand está perfeita como a policial grávida, bem-humorada e competente que persegue os dois seqüestradores. Sua personagem é extremamente humana, e McDormand consegue passar a idéia de uma mulher vulnerável, sensível e, ao mesmo tempo, extremamente determinada a encontrar os bandidos que tiveram a audácia de cometer três assassinatos em sua cidade. Embora seja uma policial, é bastante comum enquanto mulher. E seu marido é mais pacato ainda (sonha em ter um projeto gráfico que seja escolhido para ilustrar selos). Não há qualquer glamour, mas relacionamento cotidiano baseado em amor e confiança mútua.  
 
Jerry, o organizador do sequestro, por sua vez, metaforiza o profissional desesperado. Incompetente e em crise, prefere qualquer recurso a admitir o próprio fracasso. A corrupção é considerada um caminho alternativo viável. Os perigos são ignorados e as conseqüências pouco lamentadas perante a necessidade de se livrar da perseguição policial.  
 
Quer saber por que a obra interessa aos profissionais de hoje?  
 
É simples. Em qualquer àrea que a pessoa atue exige-se ver a realidade cotidiana de maneira diferente. Os irmãos Coen atingem esse objetivo. O que poderia ser um filme cansativo e aborrecido se torna instigante. O cotidiano ganha aparência de insólito e o realmente inovador (fotografia do filme) é tratado com naturalidade. Talvez seja essa uma das grandes regras que os profissionais esquecem no momento de realizar seus planejamentos.  
 
Tanto o filme quanto o livro são muito mais do que mera diversão ou distração. Afinal, o tema discute o que é a ética e quais são os seus limites. E o fascinante é que o assunto jamais se esgota, permanecendo rico e dinâmico numa era globalizada em que ser ético como a policial não irá, necessariamente, conduzir ao reconhecimento profissional.  
 
 
 
“Acho que o mundo vai poder mudar quando o ser for mais importante que o ter. Esse é o caminho: melhorar o ser humano.”
Oscar Niemeyer