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A Loja da Dona Raposa

A Loja da Dona Raposa

01/04/2009
Estava lendo para o meu filho o livro A Loja da Dona Raposa, de Hardy Guedes, publicado pela Editora Scipione.
 
A obra traz um diálogo entre a Dona Raposa e a Onça Pintada. A raposa estava fechando a sua loja "Tem de Tudo", pois não aguentava mais os pedidos absurdos dos bichos da floresta. Os animais estavam ficando birutas! O Dante Elefante, por exemplo, encomendou um cachecol; mas onde a raposa encontraria tantas ovelhas para a lã? A Girafa, ao invés de pedir uma gravata borboleta como o pinguim, queria uma gravata de laço; mas quantos bichos-da-seda a raposa precisaria contratar para atender ao pedido? E a maluca da cobra, que desejava uma bolsa para usar a tiracolo; mas como, se nem ombro ela tem? O Juca Jacaré precisava de uma nova dentadura; mas quem seria louco de tirar o molde? E tinha ainda o Chico Crocodilo que queria um lenço para enxugar suas lágrimas. E tem mais: a Andréia Centopeia (sem acento, seguindo a reforma ortográfica) cismou de usar calças compridas; mas nenhuma aranha queria costurar uma calça com cem pernas, cem bainhas, 50 ganchos...
  
Como se percebe, a história é uma analogia perfeita ao mundo dos negócios em que vivemos. E podemos tirar inúmeras lições, das quais citarei apenas algumas.
  
Em primeiro lugar, a raposa empresária perdeu o foco de seu negócio, pois não estava seguindo a premissa básica de seu Alinhamento Empresarial, que traz as diretrizes de valores, visão e missão da organização. Assim, como a própria marca da loja diz "Tem de Tudo", os clientes esperam encontrar o produto ou serviço que necessitam. Com a evolução e as significativas mudanças no comportamento, os hábitos de consumo se alteraram. Era preciso acompanhar tais mudanças, pesquisando as novas tendências, antecipar-se às necessidades dos clientes. Mas o que acontecia era que a Raposa não estava vendendo; na verdade, seus clientes é que estavam comprando. Os negócios iam de "vento em popa" porque a maré estava boa, o Banco da Mata financiava as compras, o Rei Leão dizia que estava tudo bem, etc, etc, etc. E a Dona Raposa assistia a tudo de camarote, apenas auferindo lucros e não se importando com o futuro.
  
E aí aparece a falta de planejamento do negócio. Não havia pesquisa, não se conhecia as necessidades dos clientes, não se buscava novos fornecedores e parceiros, tudo ficava na mesmice. Embora o cenário, eventualmente, apontasse para algumas dificuldades futuras, as vendas atuais maquiavam - talvez até inconscientemente - o problema da inexistência de uma estratégia de negócios.
  
Mais tarde, como as mudanças trouxeram um novo consumidor, as exigências tornaram-se maiores. Mas a empresária não entendeu a situação e não acompanhou essa nova realidade. Por isso os pedidos tornaram-se absurdos. Com isso, todos os clientes tornaram-se chatos. A tecnologia permitiu que os consumidores conversassem entre si em salas de bate-papo, postaram blogs sobre determinados assuntos, tivessem acesso às novidades lançadas numa mata distante. Os clientes, então, tornaram-se muito mais exigentes. Afinal, estavam em seu direito de exigir que a sopa fosse servida quente, que o seu lugar no ônibus fosse respeitado, que a camisa manchada fosse trocada... O comprador passou a deter o poder da negociação, diferentemente de alguns anos atrás. Agora é o cliente quem comanda a negociação. A empresa e seus colaboradores, por sua vez, precisam entender essa realidade a fim de não tratar seus clientes como "chatos". Deve-se parar de ver problemas em cada novo pedido, buscando enxergar novas oportunidades.
  
E ainda encontramos na história a doença crônica de grande parte dos profissionais modernos, a Vitimite, normalmente detectada em pessoas que acreditam que o mundo está contra elas, que não são nem responsáveis nem culpadas pelo sucesso ou fracasso. As pessoas que "sofrem de vitimite" têm comportamento apático, passivo, são desanimadas e desmotivadas, estão constantemente estressadas e irritadas. Elas acreditam verdadeiramente que são vítimas de tudo e de todos, e que ninguém as ajuda. Os problemas são causados pelo governo, crise econômica, clima, sogra, técnico do time de futebol, papagaio do vizinho... É muito mais cômodo pensar e agir dessa maneira, pois as pessoas não se tornam mais responsáveis pela própria infelicidade. E isso impede a reflexão e auto-análise, barrando o processo de crescimento pessoal e profissional, pois se não encontramos as falhas não temos como corrigí-las.
  
Certamente ainda teríamos muitos pontos a citar, fazendo mais analogias entre a Loja da Dona Raposa e as empresas de hoje. Mas acho melhor parar por aqui, para não alongar o texto.
  
Ah. Acho que vale comentar: sabe por que a Onça Pintada entrou na loja Tem de Tudo da Dona Raposa? Ela queria realçar sua pele e, por isso, queria encomendar um creme tira-manchas. Cada cliente maluco que aparece...
  

 
"Há duas formas de enfrentar as dificuldades: alterá-las ou alterar sua maneira de enfrentá-las." 
Phyllis Bottome