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A Vida de Pi

A Vida de Pi

01/08/2006
Imagine que, após um naufrágio, você se encontra num pequeno bote salva-vidas com uma zebra de perna quebrada, um orangotango, uma hiena, um rato e um tigre de Bengala de mais de 200 quilos.
 
Essa é a base da história retratada no livro "A Vida de Pi", de Yann Martel.
 
O jovem Piscine Molitor Patel é filho do diretor de um zoológico em Pondicherry, na Índia. Criado junto aos animais, possui um conhecimento enciclopédico e vivencial a respeito deles. Ao longo de seus dezesseis anos de idade, além do hinduísmo nativo, acaba também por praticar o cristianismo e o islamismo, absorvendo tudo o que cada uma das religiões pregava.
 
Quando o pai resolve deixar a Índia para levar o seu zoológico para Winnipeg, no Canadá, a família de Pi embarca num cargueiro na tentativa de buscar uma vida nova. No entanto, o navio afunda e todos morrem, exceto Pi, a zebra, o orangotango, a hiena o rato e o tigre. E, dentro de um bote salva-vidas, é travada a luta pela sobrevivência. Fora do bote, tubarões e o imenso oceano, que ora significava fonte de alimentação, ora representava a certeza de perder a vida.
 
Com a narrativa em primeira pessoa, Yann Martel consegue expressar os sentimentos e valores de Pi, transportando o leitor ao contexto da história, mergulhando na natureza dos seres humanos e na cadeia alimentar. A hiena devora a zebra e depois o orangotango. O tigre abate a hiena e o menino se defende atirando o rato ao felino.
 
E é nesse momento, quando está no meio de uma verdadeira crise, que Pi percebe que necessita enfrentar seus medos para ter chance de continuar vivendo. Sabendo que os animais do zoológico eram "semi-domesticados", pois aprenderam que havia hora para dormir e se alimentar sem precisar caçar, Pi percebe que sua única chance de sobreviver é treinando e alimentando o tigre. Da mesma forma, precisaria ter um território próprio, onde o enorme felino tivesse receio de invadir.
 
A história é extremamente envolvente pois, ao mesmo tempo em que o jovem Pi sente medo do animal, também tem um enorme afeto por ele. Afinal, o tigre pode ser a razão de sua morte, mas é também a garantia de sua vida. Para o garoto, caso o tigre não estivesse no bote, ele não teria sanidade suficiente ou coragem para se lançar a um desafio tão insólito.
 
Até o final as cenas fluem demonstrando o esforço, dor, sofrimento e resistência do menino.
 
Pi precisava agir com urgência para inverter os papéis: de possível dominado tinha que se tornar o líder. Estrategicamente, desenvolveu seu plano de ação e colocou-o em prática. Logicamente, muitas das suas tentativas foram frustradas e por pouco não pagou com a vida. Mas, com extrema perseverança e tenacidade, ergueu-se novamente e continuou lutando.
 
O que a obra nos mostra, através de sua ficção, é que também podemos sobreviver em meio aos enormes problemas da vida.
 
O oceano, por exemplo, pode representar o mercado no qual estamos inseridos profissionalmente, batalhando para chegar a um porto seguro, ou mesmo a sociedade na qual estamos inseridos em busca de reconhecimento pessoal. Os animais e o bote significam os desafios que enfrentamos diariamente em busca de sucesso pessoal e profissional.
 
A obra vale a pena, não apenas pelo prazer da leitura com uma história envolvente, mas pela lição que nos traz. Não a lição de como treinar um animal selvagem. Mas aquela de que precisamos enfrentar obstáculos e de superar nossos temores para conquistar o que há de mais importante: a vida.
  
 
 
"Quem decide pode errar. Quem não decide já errou."
Herbert Von Karajan