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Aprendendo com Daiane

Aprendendo com Daiane

01/04/2004
Não sei se é chover no molhado, como diz o ditado popular, mas vou novamente bater numa tecla que julgo muito importante para os dias atuais. Afinal, muito se fala sobre planejamento e visão de futuro, mas pouco se faz a respeito.
 
Estamos, diariamente, vendo e ouvindo notícias sobre certa estagnação da economia, inconstância das vendas em determinados segmentos produtivos, comércio varejista à beira do desespero, concorrências praticadas sem qualquer linha ética, entre outras notícias que provocam perplexidade e expectativa sobre o que ainda está para vir.
 
E é aí que mora o perigo: ficar aguardando as próximas manchetes ou, o que é pior, fazer parte da própria notícia.
 
Em visitas a clientes, sejam do setor industrial, comércio ou prestadores de serviço, sinto-me como um verdadeiro atendente do CVV: são pessoas reclamando que não sabem o que ainda pode acontecer, se levam um projeto adiante ou esperam mais um pouco (que, muitas vezes, significam anos de espera), entre outros comentários. Logicamente, existem outros clientes - mas não muitos - que estão mais tranqüilos e vão levando o seu negócio sem margem de dúvida de que seguem o caminho correto para o crescimento.
 
 
A diferença entre essa situação de empresas e profissionais não é meramente um ponto de vista mais otimista, que pode variar de pessoa para pessoa. O ponto em questão está em quem se preparou para a situação futura (hoje presente).
 
No dicionário Aurélio, encontramos a definição de planejamento: um trabalho de preparação para qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos determinados. Assim, planejar significa traçar, projetar, elaborar, programar um roteiro de ações.
 
Quem ontem se preparou para o momento atual, pode até não estar numa situação tão cômoda. No entanto, tem mais facilidade para entender os obstáculos e traçar rotas alternativas para atingir a sua meta.
 
Vamos, agora, fazer uma analogia com a situação esportiva no Brasil. Quem é o ídolo da atualidade? Um jogador de futebol? Um piloto de corridas? Um tenista? Não. Agora estamos vivendo o brilho da pequena Daiane, uma ginasta que vem encantando o mundo com suas apresentações e acrobacias, num esporte que o brasileiro nunca deu a mínima importância.
Porém, as cinco medalhas conquistadas (até o momento) nas etapas do Campeonato Mundial pela gauchinha são fruto de um trabalho sério que já vem sendo desenvolvido a algum tempo. Em Curitiba, foi criado o Centro de Excelência de Ginástica Olímpica e o Centro de Capacitação Esportiva, onde treinam os atletas da Seleção Brasileira e local em que também são descobertos novos talentos para o esporte. E isso representa um planejamento bem idealizado, com anos de trabalho, estabelecendo metas a médio e longo prazo, trazendo técnicos e preparadores gabaritados para formar nossos ginastas. Muito provavelmente não pensaram em ter atletas que se destacassem tanto quanto Daiane. Mas assim é o Brasil: basta oferecer uma oportunidade a quem está preparado, que tem garra e dedicação, que os resultados certamente vão surpreender.
 
A ex-jogadora de basquete “Magic Paula”, em entrevista à Revista E, edição de abril, publicada pelo SESC-SP, tece algumas críticas à administração esportiva no Brasil. Seus comentários aliás, podem e devem ser estendidos a diversas empresas espalhadas pelo Brasil. Paula afirma: “o que eu vejo é que não existe a preocupação de trabalho a longo prazo; é sempre uma coisa imediatista. E nós estamos às vésperas de uma Olimpíada e nunca se fala nisso desde Sidney. Essa é a grande falha do Brasil nesse sentido: esporadicamente aparecem um Guga e uma Daiane, e nós não podemos viver dessa forma. É preciso um planejamento, uma programação, descobrir quem são os atletas que nós vamos querer ter em 2008, por exemplo. Caso contrário, a gente vai para os Jogos Olímpicos e depois reclama que foi mal. Foi mal, só que desde 2000, que é o mínimo que se devia começar a pensar numa próxima Olimpíada, ninguém fala de nada, ninguém sabe da programação, do planejamento dessas confederações. A gente vive num país muito imediatista, e não segue exemplos como o da Austrália, que ficou 12 anos trabalhando seus atletas para as Olimpíadas de Sidney.”
 
Embora não tenhamos uma bola de cristal, é necessário prever o futuro, entender o que nos aguarda, para que possamos nos preparar. E a preparação pode estar presente na modernização de equipamentos e tecnologia, infra-estrutura, treinamento e motivação de pessoal, reciclagem profissional, etc.
É preciso entender o futuro para nos prepararmos no presente.
 
 
 
 
“A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.”
Peter Drucker