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Cada Macaco no seu Galho

Cada Macaco no seu Galho

01/07/2003
Estava relendo alguns artigos que tenho arquivados e encontrei dois excelentes materiais que foram escritos pelo Professor Francisco Alberto Madia de Souza, presidente da Madia Associados, e tomo-os emprestados para dar conteúdo a este texto.
 
Conta o articulista que, há 15 anos, depois de muito emprenho, Peter Gruber conseguiu convencer a Warner Brothers a financiar a produção do filme “Na Montanha dos Gorilas”, com um orçamento limitado a US$ 40 milhões. Passada a empolgação pela aprovação do projeto, diretor e equipe viram, perplexos, a ficha cair. Afinal, a realização do filme estava condicionada aos gorilas serem capazes de representar o que estava no script.
 
Se assim não fosse, não restaria outra alternativa do que recorrer a velha e surrada fórmula de fantasiar anões de gorila, o que a Warner já havia deixado claro que não aceitaria, por tirar a credibilidade do filme.
 
Diante do problema, a equipe se reuniu para encontrar uma solução. No meio de tantas dúvidas, uma das participantes, com a maior naturalidade, disse: “Que tal se mandarmos um bom fotógrafo às selvas de Ruanda com uma tonelada de negativos e filmar os gorilas tal como se comportam? Depois se reescreve a história, totalmente verdadeira, porque retrata, com naturalidade, o cotidiano dos gorilas...”
 
Assim nasceu um dos grandes filmes dos anos 80, que conta a história da naturalista Dian Fossey, que tentava salvar os gorilas de Ruanda dos caçadores, permanecendo ao lado deles e fazendo uma contagem permanente para evitar que fossem dizimados. Sigourney Weaver, interpretando a protagonista, foi indicada para o Oscar de melhor atriz em 1988. Na minha modesta opinião, os gorilas deveriam ser indicados para o prêmio de atores coadjuvantes.
Em outro artigo, o Professor Madia faz uma distinção entre conhecer e entender. Ele cita o caso em que famosos jogadores de futebol tentaram lançar um negócio que acabou por ruir em pouco tempo.
 
Ele nos conta, por exemplo, que não causa surpresa constatar-se que o Café do Gol, leia-se Romário, bar/boate com 3 mil metros quadrados e capacidade para 2 mil pessoas, aberto em novembro de 98, e que demandou um investimento superior a US$ 2 milhões, tenha fechado suas portas (leve-se em conta que ainda rolou um processo pelo uso de imagens de personalidades, se não me engano do Zagalo, na porta dos banheiros). Dessa mesma forma o Espaço Zico, com pretensões menores e uma arquitetura inspirada no Maracanã, aberto em abril de 98, tenha sobrevivido mal e precariamente durante apenas 10 meses. E ainda, que a boate R9, do craque Ronaldinho, aberta em agosto de 98, tenha resistido heroicamente a 17 meses e também tenha fechado suas portas.
 
Talvez você esteja perguntando: mas o que tem em comum esses dois artigos?
A resposta é simples: “cada macaco no seu galho”.
No caso dos talentosos jogadores, eles precisavam escolher melhor seus conselheiros e parceiros, saber separar amigos palpiteiros de consultores profissionais. E não se sentirem obrigados a abrir um negócio na tentativa de aumentar a admiração e respeito que as pessoas já devotam pela sua arte. Eles se cercaram de pessoas despreparadas para montar um negócio e, pela falta de capacidade e profissionalismo dessas pessoas, os projetos não seguiram adiante, além de lhes causar enorme prejuízo.
 
Sobre o filme dos gorilas (e aqui falar “cada macaco no seu galho” até parece brincadeira), quem melhor pode interpretar um animal se não ele próprio?
É necessário que todos tenham ciência de que precisamos fazer aquilo que realmente sabemos.
Nestes tempos atuais, o acesso à informação é disponível para todos, e a multiplicidade e variedade desses dados estende-se por todos os campos, sejam assuntos de esportes, tecnologia, política, religião, etc. Assim, todos acabamos por conhecer um pouco de cada coisa; às vezes, por curiosidade ou necessidade, até nos aprofundamos em algumas áreas de maior interesse.
 
Mas esse conhecimento não significa que tenhamos capacidade ou competência para desenvolver determinado projeto. Precisamos nos cercar de pessoas especialistas, que saibam detalhes, que se atenham às nuanças de sua área ou negócio; profissionais especializados, que aliam sensibilidade, experiência e conhecimento, observando o movimento, comportamento, aspirações e desejos dos consumidores, para disponibilizar soluções facilitadoras. Se vamos construir nossa casa, por exemplo, sabemos como desejamos o projeto: número de quartos, varanda, piscina, etc. Mas isso não quer dizer que temos competência para saber que tipo de fiação ou encanamento vamos utilizar.
 
Por essa razão, seguindo as orientações do Professor Madia, passei a me imaginar encontrando com alguém metido a marqueteiro, entendido em comunicação e propaganda, com pouca-prática ou, então, do tipo sei-de-tudo-não-preciso-de-você, prepotente, às vezes estúpido mesmo, tentando reconstruir o mercado e adestrar consumidores. A conclusão que cheguei é de que deverei contar a história do filme e dizer: deixe os gorilas interpretarem...
 
 
 
 
“Feliz daquele a quem as desgraças alheias tornam acautelado”.
Provérbio