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Dividir para Somar

Dividir para Somar

01/01/2003
O livro “Histórias para Aquecer o Coração” (Editora Sextante) é um conjunto de pequenas histórias reais, comoventes e, acima de tudo, inspiradoras.
 
Uma delas, em especial, chamou minha atenção.
Conta-se que Jimmy Durante, um dos grandes artistas americanos do teatro de variedades, foi solicitado para realizar um show beneficente para os veteranos da Segunda Guerra Mundial. Ele disse que estava com a agenda muito ocupada e que poderia ceder apenas alguns minutos, mas que, se não se importassem de ele fazer um curto monólogo e partir imediatamente para seu próximo compromisso, ele iria. É claro que o diretor do espetáculo concordou alegremente.
Mas quando Jimmy subiu ao palco algo interessante aconteceu. Ele acabou o pequeno monólogo e ficou. Os aplausos ficaram cada vez mais altos e ele continuou ali - quinze, vinte, então trinta minutos. Finalmente, fez sua última reverência e saiu do palco.
 
Na coxia, alguém o deteve e disse:
- Achei que o senhor tinha que partir depois de alguns minutos. O que aconteceu?
Jimmy respondeu:
- Eu realmente tinha que ir, mas posso lhe mostrar o motivo pelo qual fiquei. Você mesmo pode ver se olhar para a primeira fila.
Na primeira fila estavam dois homens, cada um dos quais havia perdido um braço na guerra. Um perdera o braço direito e o outro, o esquerdo. Juntos, eram capazes de aplaudir e era exatamente isso o que estavam fazendo, bem alto e alegremente.
 
Esse conto nos mostra várias facetas: as possibilidades do trabalho em grupo, a superação de um desafio, a importância que deve ser dada às pequenas coisas, a alegria pela vida apesar das dificuldades... No entanto, meu maior interesse é ressaltar um outro ponto: a divisão de problemas.
A sociedade de hoje tornou as pessoas individualistas, preocupadas com seu próprio mundo, onde cada um vira a face apenas para as suas intenções. E, ao nos depararmos com uma dificuldade, lutamos sozinhos para enfrentá-la.
 
O homem atual parece ter medo de dividir seus problemas. E isso não acontece pela falta de confiança ou de amizade. Na verdade, um dos maiores medos do mundo moderno é que os outros percebam que temos dificuldades ao enfrentar determinadas situações. Ficamos nos remoendo em cima do problema sem conseguir vislumbrar uma luz ou solução. E, mesmo assim, não apresentamos nossa dificuldade aos outros para que, juntos, encontremos uma solução.
A história de Jimmy Durante nos mostra dois homens que, apesar de seus problemas físicos, juntos eram capazes de realizar os esforços de um homem, mas com o dobro de entusiamo e alegria.
 
O velho ditado popular diz que “duas cabeças pensam melhor do que uma”. E, sobre essa máxima, devemos ainda ter a certeza de que ninguém é tão auto-suficiente que não tenha nada para aprender. O que, muitas vezes, temos enorme dificuldade em realizar, outros o fazem com extrema facilidade. E situações que para nós parecem corriqueiras de tão simples que são, algumas pessoas custam a desenvolver.
 
A história nos ensina que o homem passou a viver em grupos para lutar contra as adversidades. Mas no mundo atual, onde parecemos viver um estresse crônico, envoltos em problemas, estamos deixando nossas raízes de vida comunitária para trás.
 
O termo sinergia tem sido empregado em diversas situações, principalmente empresariais. Mas, na prática, esse “esforço coordenado de ações para a realização de um fim” não acontece.
Temos receio de apresentar nossa situação, pessoal ou profissional, da forma como ela realmente é.
 
A vida é uma escola, é um exercício constante de aprendizagem. É certo também que, para muitas coisas, podemos ser autodidatas. Mas em um número maior de situações precisamos do auxílio e esforço de outras pessoas.
 
Por isso é necessário compartilhar a vida, sem medo de expor o problema. Muitas vezes, precisamos apenas de uma palavra para estimular nossa confiança. Apenas um “você pode!” vindo de alguém.
 
Divida seus medos, seus anseios, suas dúvidas. Sempre haverá alguém próximo para escutar, aprender e ajudar.
 
Afinal, assim é a vida... Uma eterna sala de aula onde, às vezes somos os alunos, outras vezes somos os mestres.
 
 
 
“Eu me apoiarei em você... E você se apoiará em mim... E nós sempre estaremos bem”.
David Mathew´s Band