Loading

5515997072254
Eu Sei o que É Melhor

Eu Sei o que É Melhor

01/08/2009
Dia desses estava assistindo ao filme "Minha Mãe Quer Que Eu Case" - uma comédia água com açúcar - já julgando o tempo de sofá como perdido.
 
Na fita, Daphne (Diane Keaton) é uma mãe solteira e controladora que criou as três filhas com sucesso e que é capaz de fazer absolutamente tudo por elas. Preocupada com Milly (Mandy Moore), temendo que a caçula faça uma escolha equivocada para encontrar o homem perfeito, decide escolher o futuro marido dela. E então coloca um anúncio em um site de relacionamentos - sem contar para a filha, é lógico - e começa a selecionar os pretendentes. Mas a garota não está nem um pouco disposta a seguir as recomendações da mãe e a situação vira um verdadeiro cabo-de-guerra entre as duas.
  
Como disse, já estava achando que havia perdido meu tempo. No entanto, alguns poucos segundos valeram a pena.
Não, não estou falando da cena em que as irmãs aparecem provando lingeries. Após a briga entre as protagonistas, a mãe está conversando com seu namorado e, neste ponto, apenas duas frases fizeram o filme valer a pena para mim:
- "Mas eu só faço o melhor para a milha filha!!!", diz a mãe.
Ao que o homem retruca:
- "Ok. Mas você pode não saber o que é melhor para ela, certo?"
  
Vivemos essa situação a todo o momento. Nós sempre julgamos saber o que é certo para nossa empresa, nossa vida profissional ou pessoal. Mas nem sempre isso é verdade. Acontece que vemos o mundo da forma como gostaríamos que ele fosse, ou seja, percebemos as coisas de um jeito muito particular e individual - e porque não dizer, egoísta.
  
Perceba que, dentro de uma organização, normalmente os profissionais do Comercial entendem que são o coração da empresa, pois sem vendas não há lucro e nem porque produzir. De outro lado, a Produção se julga mais importante, pois de nada adianta vender se não houver produto. Mas a Engenharia e Desenvolvimento se diz fundamental, pois é responsável pelas constantes melhorias e diferenciais do produto. O RH afirma que sem profissionais qualificados e motivados nada se faz. O Financeiro mostra que se não houver movimentação no caixa ninguém recebe nem paga nada. Então, cada um se julga mais importante pois está vendo tudo de um modo muito particular. E, por esse prisma, eu diria que o profissional mais importante é o porteiro, pois sem ele ninguém entra nem sai da empresa.
  
Assim, é comum vermos boa parte do empresariado tomando decisões que colocam em risco a empresa, simplesmente por julgarem saber o que é melhor para ela. Normalmente, são decisões tomadas com muito sentimentalismo, baseadas em "achismos" e com pouquíssimos dados concretos ou informações verdadeiras. E, como no filme, o executivo só deseja o melhor para a sua empresa, com intenção de que ela cresça e prospere a cada dia. E isso acontece no dia-a-dia, seja a empresa de qualquer porte.
  
Por mais que cuidemos da nossa saúde, surgindo uma dor de cabeça constante, vamos procurar um médico. Se aparecer um colaborador demitido alegando que não cumprimos com as obrigações legais, mesmo tendo tudo documentado, vamos recorrer a um advogado. Mesmo escovando os dentes 3 vezes ao dia após as refeições, nós visitamos o dentista regularmente (ou deveríamos). Mas, quando se trata do futuro do negócio, é comum nos fecharmos em nosso mundo e decidir com base naquilo que acreditamos. E os passos podem ser desastrosos.
  
Lembre-se do fracassado lançamento da New Coke na década de 80, após dois anos de desenvolvimento de uma nova fórmula para o refrigerante. Mesmo com tantos profissionais da empresa envolvidos nas diversas etapas do processo e o poder da marca, o produto não vingou. Ao final, depois de um prejuízo nunca revelado, um executivo afirmou: “Não somos tão espertos nem somos tão burros, e estamos trazendo de volta a Coca antiga porque é isso que você quer”.
  
Há ainda uma situação cotidiana que ilustra bem esses "achismos", como no caso em que marido e mulher estão indo para uma festa, procurando o lugar e a mulher pede para o homem pedir informação, ao que ele diz que sabe andar por ali. Depois de muito rodar e perder metade da festa, acabam discutindo e ele se rende: pára no primeiro botequim e pergunta o que fazer.
  
Quando você veste uma roupa nova para ir a uma festa, por exemplo, garanto que pergunta a alguém se fica melhor com este ou aquele acessório. Quando vai trocar de carro, também busca informações concretas sobre o veículo. A opinião alheia é importante e sempre bem-vinda. Mas, na empresa, muitas vezes o orgulho fala mais alto e é comum ouvirmos: "eu sei o que é melhor para a minha empresa."
  
Sinceramente, espero que sim. Mas lembre-se: confirmar se a direção que você está tomando é correta pode evitar desvios de rota, ganho de tempo e, até mesmo, ter de reiniciar a viagem.
  
 

  
 "Não vemos as coisas como elas são, e sim como nos parecem."
extraído do Talmude