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Lições de Hemingway

Lições de Hemingway

01/02/2006
Clássico da literatura contemporânea, a obra O Velho e o Mar foi escrita por Ernest Hemingway em 1952. O livro narra a relação de um pescador na sua profissão, os desafios que enfrenta em seu dia-a-dia e, muito mais que tudo isso, a força e tenacidade do homem para superar seus próprios limites.
 
Num lugarejo na costa cubana vivia o velho Santiago, que pescava sozinho num esquife. Os dias passavam sem que ele pegasse um mísero peixe. Nos primeiros 40 dias, o menino Manolín o acompanhava; mas após tanto tempo sem peixe, os pais do garoto disseram que o velho era definitivamente um "salão", que é o pior tipo de azar. Manolín, obedecendo os pais, foi para outro barco, que pegou três belos peixes já na primeira semana.
 
O velho ensinara o menino a pescar e o menino o amava. Santiago tinha cabelos alvos, era marcado pelas rugas da idade, sua pele era castigada pelo sol e suas mãos tinham cicatrizes fundas, mas nenhuma recente, por lutar com peixes pesados. Tudo nele era velho, com exceção dos olhos, que eram alegres e incansáveis.
 
Manolín se entristecia ao ver o velho chegar com o esquife vazio. Ele sempre o ajudava a carregar as linhas, a carangueja, o arpão e a vela, que se enroscava em volta do mastro. A vela era remendada com sacos de farinha e se enrolava, parecendo a bandeira de uma derrota permanente. Ninguém o roubaria, mas o velho achava que era melhor levar a vela e as linhas para casa, porque o orvalho as danificava. E também para não correr riscos, pois achava que uma carangueja e um arpão eram tentações desnecessárias para deixar num barco. Ao voltar no final do dia o menino e o velho iam para um bar, onde outros pescadores caçoavam dele. Mas o velho não ligava, pois tinha aprendido a ser humilde. Depois os dois foram para a humilde casa do velho e lá jantaram, graças ao menino. O velho disse que no próximo dia teria sorte, pois era o 85º dia, mas não podia imaginar o que lhe aguardava.
 
Cansado do escárnio e disposto a provar para si mesmo que ainda é um bom pescador, Santiago lança-se ao mar aberto de Havana, sozinho, em seu pequeno barco. Tendo poucos mantimentos e alimentando-se de golfinhos e peixes-voadores, Santiago finge conversar com alguém, falando em voz alta os feitos do passado.
 
Após vários dias em alto mar, finalmente consegue capturar o maior peixe que já havia visto na vida, um marlim com mais de 5 metros de comprimento. Santiago então trava uma luta de três dias, tentando vencer a força e a resistência do peixe. Tendo vencido a batalha e depois de amarrar o peixe ao barco, o velho ainda é atacado por tubarões que tentam devorar o peixe, sempre correndo o risco de ser morto.
 
Santiago chega exausto à praia, somente com o esqueleto do marlim. Os outros pescadores medem o comprimento do que restou do peixe e Santiago passa a ser admirado por todos.
 
A narrativa é dinâmica e vibrante, e também virou um clássico das telas (com uma brilhante atuação de Spencer Tracy no papel de Santiago).
 
Agora que você já sabe o conteúdo e o final da obra, pode até pensar que não vale a pena conhecer O Velho e o Mar. Mas posso afirmar, seguramente, que as palavras de Santiago jogadas ao vento são o mais admirável de tudo, pois mostram a luta de um homem com ele mesmo. Paciência, sabedoria e persistência são elementos que lhe garantem sobrevivência diante do que poderia ser trágico.
 
E podemos transportar tudo isso para nossas vidas. Afinal, temos diariamente nossos próprios desafios em "mar aberto", lutamos contra "tubarões vorazes", sempre em busca de alcançar um feito notável e "pescar o maior peixe". Passamos a vida inteira no mar, empreendendo batalhas e buscando vitórias. Para isso, precisamos conhecer as marés, as mudanças climáticas, a localização dos cardumes e o comportamento dos peixes.
 
Em sua jornada solitária, Santiago teve a oportunidade de refletir sobre sua vida. Goethe disse que o homem precisava primeiro conhecer a si mesmo para saber como viver. Talvez essa seja a grande lição de O Velho e o Mar.
 
 
  
"Quando o homem perder a capacidade de ter esperanças, pode-se apagar o arco-íris."
Mário Lago