Loading

5515997072254
Milho aos Pombos

Milho aos Pombos

01/10/2014
Em uma de suas brilhantes composições, que inclusive intitula este artigo, Zé Geraldo canta: 
"Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça... Dando milho aos pombos..."
 
Muito se discute sobre o intuito do "Zé" em sua letra. O que ele queria realmente transmitir?
Alguns afirmam que era alusão à ditadura militar, onde os cidadãos estavam de mãos atadas e nada podiam fazer para mudar a situação.
Outros gostam de dizer que refletia o egoísmo em que o indivíduo não se preocupava com nada nem com ninguém.
Para outros, retratava a alienação das pessoas quando não olham a sua volta.
E é esse o significado sentido que pretendo abordar: alienação. 
 
No mundo profissional, seja das micro-empresas ou das mega corporações, a maior parte das organizações está alienada quanto ao que se passa fora dos "muros de sua marca".
Consequentemente, agem e caminham sem saber das coisas, fazem sua parte mas não se importam nem sabem o que acontece a seu redor. E mais: diminuem sua capacidade de evolução e progresso por não se interessar em ouvir opiniões alheias - por isso são pessoas alienadas. Daí dizer-se que um alienado perdeu a razão e está louco.
  
Há tempos que o mercado de comunicação vem pautando os temas de branding e gestão da marca com base no "storytelling", isto é, na contação de histórias. Afinal, no mundo de milhares de informação, não basta apenas chamar a atenção; é necessário conversar com o seu público.
 
Um excelente exemplo é o livro de Spencer Johnson, "Quem Mexeu no Meu Queijo?", que saiu do lugar comum ao falar em gestão de mudanças na pele de ratinhos e duendes perdidos num labirinto. Ou seja, contando uma história que explorava a imaginação.
  
Imaginação é uma das palavras mais persuasivas, pois ela leva a pessoa do campo racional para o mundo emocional, repleto de percepções. A partir do momento que alguém diz "imagine uma cama confortável", você começa a sentir aconchego, tranquilidade, paz.
Se pedirem para imaginar uma praia tranquila, você já se sente espreguiçando numa rede, com céu azul e bebidas refrescantes.
 
Quando alguém está no campo fictício da imaginação altera profundamente a maneira de processar as informações. Há envolvimento com a história, estando passível de fazer parte da mesma, de mobilizar-se por ela. Isso porque as histórias baixam as defesas críticas e racionais, criando um envolvimento emocional que nos tornam mais receptivos à informação.
 
Mas as "organizações e profissionais alienados de plantão" continuam dando milho aos pombos.
Os mesmos discursos, a mesma comunicação, a mesma desculpa esfarrapada de sempre, a mesma velha apresentação conduzindo ao eterno e monótono blá-blá-blá: a culpa é do mercado. 
A história, o conhecimento, os mitos são transmitidos através da contação de histórias.
Basta ver o poder persuasivo dos contos indígenas, do folclore, das histórias infantis, das lendas, das parábolas, das músicas (como Imagine, de John Lenon), dos discursos mobilizadores (como Martin Luther King, no inflamado "Eu tenho um sonho") e em tantos outros exemplos.
Todos revelam o propósito que conduz ao engajamento, porque falam ao coração das pessoas.
 
E que história você está contando?
Ou está apenas dando milho aos pombos?
 
 
 
"Para um cavalo cansado, até o rabo é um peso".
Provérbio Tcheco-Eslovaco