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O Centro do Mundo

O Centro do Mundo

01/03/2003
Eventualmente, quando nos deparamos com situações e fatos fora de nosso cotidiano, percebemos o quanto o ser humano é semelhante, apesar de sua experiência, formação e cultura diversas.
 
Assistindo ao filme “Rapa Nui - O Centro do Mundo”, dirigido por Kevin Costner, deparei-me com tal questão. A história se passa na Ilha de Páscoa - aquela dos Moais, as estátuas gigantes - e nos mostra um pouco da vida desse povo.
 
Conhecida na língua nativa também como “Te Pito o Te Henua” (o umbigo do mundo), a Ilha de Páscoa tem sua população dividida em famílias ou clãs, mais os escravos. As classes sociais mais altas, os “orelhas longas” (assim chamados por colocarem adornos em suas orelhas), disputam o poder através de uma competição para a escolha do Homem Pássaro, o chefe de todas as tribos.
 
Esse é o mais importante ritual rapa nui - como preferem ser chamados os habitantes da ilha: uma competição entre as 12 famílias, na qual um representante de cada clã tem uma missão para lá de complexa. A tarefa: descer a encosta de um vulcão até o mar, nadar centenas de metros até uma ilha rochosa em um mar repleto de tubarões, escalar a ilha, capturar o ovo de uma “manu tara” (ave marinha) e levar o ovo, intacto, de volta. Quem chega primeiro elege o chefe de sua família como novo “Tangata Manu” (ou Homem-Pássaro), a grande autoridade popular do local.
 
No filme ocorre uma revolta dos “orelhas curtas” (escravos), que formam a classe social mais baixa, oprimida e sem qualquer tipo de direito político (isto é, não tem representante na competição).
Os “orelhas curtas” eram os responsáveis pela construção dos Moais, as estátuas gigantes que representavam uma oferenda aos deuses, para conseguir as bênçãos ao povo, proporcionando boa caça, pesca e colheita.
 
No entanto, conforme eram construídos os Moais, ocorria a derrubada de árvores e desmatamento, prejudicando a fauna e flora, levando à escassez de alimentos e esgotamento de recursos naturais. Alguns grupos de escravos percebiam a situação, mas não tinham direito a voz ativa dentro da sociedade.
 
Assim como vemos em nossa sociedade, as desculpas dadas pelos “orelhas longas” eram a de que os deuses não estavam satisfeitos com os moais construídos pelos escravos. Assim, os fracassos recaíam sobre as situações externas, isto é, a ira dos deuses, e a má vontade dos “orelhas curtas”.
 
Comparativamente, vemos situação similar, dia após dia, nas empresas, em seus diretores e colaboradores. Acabamos sempre por colocar a culpa de fracassos ou de não realizações na situação econômica, nos colegas de trabalho, na empresa fornecedora, nos concorrentes, na Guerra do Bush, no Carnaval.
 
Para sermos os “Homens Pássaros” de nossas próprias vidas, temos de ter ciência de que nós precisamos - e podemos - fazer as coisas acontecerem por nossos próprios méritos. É através de nosso suor, conhecimento e força de vontade que alcançamos a satisfação plena.
 
É lógico que os fatores externos influenciam, e muito, no crescimento do negócio.
 
Porém, é comum o fato de que os “orelhas longas” das empresas muitas vezes se preocupam mais com o próprio umbigo, esquecendo-se de que a sua volta existem pessoas capazes e competentes que podem opinar e enxergar outras possibilidades para a empresa.
 
Não é difícil ouvir colaboradores. Algumas empresas, onde não havia um convívio próximo entre os escalões profissionais, passaram a adotar e a incentivar o uso da “caixa de sugestões’; em outros casos, foram implantados esquemas de “Café da Manhã com o Presidente”, “Reunião de Grupos”, etc. Daí surgiram inúmeras propostas em como aumentar a produção, melhorar a qualidade dos produto, otimizar o tempo e os gastos de produção, entre outras idéias.
 
O interessante nessas medidas de integração foi a constatação de que o funcionário não pode dar sugestões e opiniões sem conhecer quais são os problemas enfrentados pela empresa.  Logicamente, as decisões ficam a cargo da diretoria.
 
Ouvindo os colaboradores é possível alcançar o sucesso e conseguir o apoio de todos.
 
Não é preciso construir estátuas gigantes ou pedir aos deuses que proporcionem o sucesso; em conjunto, é possível alcançar os objetivos traçados.
 
 
 
“Nós não precisamos de muita coisa. Só precisamos uns dos outros”.
Carlito Maia