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O Lado Bom da Concorrência

O Lado Bom da Concorrência

01/03/2006
Conta-se que, após o fatídico acidente no qual Ayrton Senna bateu o seu carro contra o muro no circuito de Ímola, na Itália, em maio de 1994, seu eterno rival Alain Prost declarou que jamais voltaria a pilotar um carro de Fórmula 1. Segundo ele, por anos, foram rivais dentro e fora das pistas. Cada um deles queria, e precisava, ser melhor que o outro.
 
Dias antes do acidente, Senna manifestou em um programa de televisão que sentia saudades do "amigo" Prost. O piloto francês entendeu o recado e os dois encerraram suas diferenças de uma década de rivalidade às vésperas do acidente.
 
Prost revelou: "Somente neste momento consigo perceber o quanto irei sentir a falta de Ayrton". Ele queria dizer que, com a morte do brasileiro, ele perdia seu principal concorrente nas pistas e, por conseqüência, perdia também a sua referência e motivação para continuar correndo atrás de títulos e recordes.
 
Percebemos aqui mais uma lição em que o esporte, através de atos e palavras de seus protagonistas, nos ensina como tratar a concorrência. Aquele que é melhor, para continuar à frente, precisa lutar a cada dia para que seus rivais não o alcancem. Estes, por outro lado, se esforçam ao máximo para atingir o líder, que se torna uma referência para os demais.
 
O concorrente não é um inimigo. Ele é um balizador. Através da observação da concorrência podemos perceber seus erros e acertos, corrigindo nossa rota. É possível corrigir os erros, perceber o que o outro tem de negativo e aplicar desenvolver práticas que superem as deficiências. Pode-se ainda, dar ênfase aquilo que se tem de melhor, destacando o seu diferencial.
 
Assim, percebe-se que a concorrência serve como uma bússola, que orienta e leva cada pessoa a melhorar o seu desempenho profissional, buscando novas oportunidades, abrindo seu leque de opções.
 
Nas escolas de marketing e administração chamam a essa prática de benchmarking, que nada mais é que a observação para conheceras práticas do concorrente, agregando aquilo que for produtivo para seu negócio.
 
O fundador da rede de lojas Wall Mart, Sam Walton, é uma referência dessa prática no varejo. Com seu boné, um lápis e um bloco de anotações, dirigia-se às lojas concorrentes e anotava tudo: disposição de produtos nas prateleiras, comunicação visual, preços, formas de atendimento, promoções, facilidades oferecidas, etc. Aquilo que lhe agradava ele implantava em suas lojas. Por outro lado, também percebia o que não deveria fazer de maneira alguma.
 
Hoje, qualquer criança que está jogando bola quer ser um Ronaldinho. As meninas sonham em ser a próxima Gisele Bündchen. No basquete, temos como referência Oscar e Hortênsia. Aurélio Miguel no judô. Senna nas pistas. Daiane na ginástica.
 
Fora do esporte, temos também as pessoas que admiramos, como os empresários Antonio Ermírio de Moraes, Silvio Santos, Abílio Diniz. Parte do sucesso das revistas de negócios se deve ao fato de que desejamos conhecer histórias de pessoas que alcançaram um nível de destaque em suas profissões.
 
As emissoras de TV tentam chegar ao patamar de produção e audiência da Globo. Esta, por sua vez, precisa melhorar a cada dia para não perder sua posição de destaque. Cada emissora se vale dessa posição para desenvolver seus programas. Note que, anos atrás, a programação da emissora carioca era recheada de desenhos e programas infantis. Hoje, em praticamente todas as redes, temos metade desse período com programas voltados à dona de casa. A Globo percebeu que estava dando espaço para as outras que, por sua vez, têm uma estrutura que permite mudanças mais ágeis e ousadas. E uma aprende com a outra.
 
Antes, a idéia era se digladiar com o concorrente, querendo o seu fim. Não era necessário apenas vencer; o objetivo era destruir o oponente. Atualmente, quem se preocupa todo o tempo apenas com o concorrente de forma negativa acaba gastando energia e neurônios à toa.
 
A concorrência é apenas mais um obstáculo. Mas, por vezes, essa barreira pode servir de impulso para um salto maior.
 
Então, aprenda com o seu concorrente. Ou, como diria Odorico Paraguaçu, "em terra de sapos, de cócoras como eles".
 
 
 
"É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe."
Epiteto