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Olhar Positivo

Olhar Positivo

01/08/2003
A insatisfação do homem com a vida profissional parece estar assolando todo o país. Vemos as pessoas estressadas em casa, no trânsito, até mesmo no futebol de final de semana ou na fila do cinema. Parece que todos estão se desiludindo com a vida, entregando os pontos, com raiva de tudo e de todos. Afinal, “Deus e o mundo estão contra mim!”
 
O filme “O Todo-Poderoso”, estrelado por Jim Carey, Morgan Freeman e Jeniffer Aniston, dirigido por Tom Shadyac, ilustra exatamente como as pessoas se voltam contra a vida e contra todos quando as coisas parecem difíceis (ou impossíveis) de se conquistar.
 
Não sei se ainda está em cartaz: em caso afirmativo, vale conferir. O enredo nos mostra Carey como um repórter descontente com sua vida profissional que, ao não conseguir uma promoção para âncora do tele-jornal, passa a questionar Deus (Freeman) por suas desilusões. O Criador, decidido a tirar férias (será que Ele faz isso?), resolve descer à Terra para dar ao repórter a tarefa de governar o planeta da forma que achar melhor. É quando Carey percebe o quão difícil é ser Deus e tomar conta de tudo o que ocorre no nosso planeta.
 
Deixando de lado as caretas e palhaçadas características de Carey, um Jerry Lewis modernizado, o filme nos oferece uma visão de que aquilo que temos pode ser melhor do que aquilo que desejamos.
Constantemente vemos as pessoas reclamando por não conseguir uma promoção, um aumento de salário, um emprego estável. Ou ainda por não ter conseguido trocar o carro neste ano, não ficar sócio de um novo clube. E mais: também reclamam do governo (fome, corrupção, economia)... Acho que, como a personagem do filme, também chegam a reclamar de Deus por conta das doenças, catástrofes, fome...
 
E isso tudo vai nos corroendo, deixando marcas em nossas vidas, provocando o estresse crônico (ao qual já nos acostumamos) e pode chegar a ponto de atingirmos uma frustração tão grande em relação à vida, que passamos a ter os dias iguais, sem um otimismo, apenas esperando o Sol nascer e se pôr.
 
Acredito que a eterna insatisfação do ser humano é um dos pontos que devemos combater para nos livrar das garras da desilusão. é comum observarmos alguém falando que trabalha demais, dá a vida pela empresa, mas que o outro acaba conquistando mais vitórias. E, por conta disso, vai-se criando uma ponta de inveja, que se transforma em raiva e pode atingir a depressão.
Alguns anos atrás, um cliente comentou que sua equipe de desenvolvimento de produtos estava perdendo a produtividade. Foi fácil perceber que a empresa não possuía uma equipe, mas sim várias pessoas trabalhando individualmente para atingir um fim. Se um profissional estava desenvolvendo, um projeto, ele escondia na gaveta com chaves, colocava senha no arquivo eletrônico - assim, esperava-se apresentar o material para o chefe e garantir a estabilidade no emprego ou, quem sabe, uma gratificação. Era uma verdadeira competição, onde todos queriam ser “o melhor”.
 
No início, foi difícil vencer a resistência desse pessoal a aceitar o trabalho motivacional para o qual fomos contratados. Aos poucos, contando também com a ajuda de uma psicóloga, fomos conseguindo quebrar os obstáculos e levantar o moral dos funcionários. Eles passaram a perceber que não valia a pena levantar da cama e ir para a empresa da forma como estavam fazendo.  Buscamos mostrar-lhes o porquê de fazerem aquilo: para um era o bem-estar da família, para outro era a satisfação de produzir, um terceiro tinha intuitos unicamente materialistas (adorava carros). A princípio, todos perceberam que, embora almejassem coisas distintas, não haviam conquistado nada nos últimos tempos, pois cada um se via disputando com o outro a possibilidade de criar um novo produto.
 
Lembro-me que um dos primeiros pontos foi fazer com que, cada um deles, ao se dirigir de casa para a empresa, desenvolvesse alguma forma para se sentir melhor e não carregar “um fardo” para chegar ao trabalho. Um deles ouvia música (aquela do Gonzaguinha: “Viver, e não ter a vergonha de ser feliz...”), outro fazia ioga no carro, aquele mais apegado à família tinha colado uma foto de todos no retrovisor... Gostei quando o rapaz que gostava de carros admitiu usar a idéia da foto, e colocado uma Ferrari F-40 no retrovisor: afinal, se o carro de Maranello estava no retrovisor, ele estava “andando mais”.
 
A partir daí, foi fácil d’eles perceberem que um podia ajudar o outro, pois a idéia de um ajudaria a beneficiar o outro e que eles não estavam competindo. Eles voltaram a ser uma equipe! Voltaram a produzir bem e com mais qualidade: de 16 projetos apresentados, 14 foram lançados.
Esse trabalho serviu para que eu também pudesse rever meus conceitos (não estou fazendo propaganda do automóvel). Passei a perceber que estava levando um dia igual ao outro, dedicando-me exclusivamente ao trabalho. Lembrei-me de que não sentava mais para “jogar conversa fora” com amigos, não passava muito tempo em casa, não via o que estava ao meu redor. Talvez, para algumas coisas, tenha percebido tarde demais. No entanto, o que pude recuperar valeu a pena.
 
O mais fascinante do filme “O Todo-Poderoso” é que ele mostra a nossa própria vida, pois apenas nós somos capazes de mudá-la. Para isso, precisamos ver o que ela nos proporciona de bom. Ao invés de olharmos o copo de água meio vazio, vamos entender que ele está quase cheio. Nós somos capazes de mudar nossas vidas, basta querer.
“Viver, e não ter a vergonha de ser feliz...”
 
 
 
 
“No mundo existem os que choram e os que vendem lenços. Eu decidi vender lenços”.
Nizan Guanaes