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Poder: Uso e Abuso

Poder: Uso e Abuso

01/08/2005
Você já teve a oportunidade de ler "A Revolução dos Bichos", de George Owell?
Embora o livro seja uma sátira à Revolução Russa (1917), buscando retratar aquela época em específico, a obra pode se encaixar em qualquer tempo, pois retrata os casos onde os mais fracos tomam o poder e, mais tarde, são corrompidos.
 
A fábula se passa na Granja Solar, onde o dono da fazenda tem problemas de alcoolismo e maltrata seus animais. Por sua vez, os bichos, revoltados com as atitudes do fazendeiro, organizam um levante para tomar o poder, buscando ideais igualitários para todos. Baseados nas crenças do velho Major, um porco bastante sábio, os animais fazem uma revolução e passam a comandar a fazenda, que começa a prosperar.
 
No entanto, existem as metas e sonhos sempre inatingíveis (como a construção de um moinho de vento), as tentativas de retomada da fazenda pelo homem, a saudade dos tempos antigos e, por fim, o descontentamento dos animais com a situação atual. Tudo isso porque os porcos, comandantes da Revolução, começaram a ter gosto pelo poder e a governar para si. Inclusive, passam a lembrar os homens, seus inimigos anteriormente. Andam em duas patas, vestem roupas e comem à mesa.
 
Ao final da obra, percebemos que o poder absoluto sempre corrompe aqueles que o exercem. Orwell confirma tal questão com um aforismo: "Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que os outros".
Publicado em 1945, as lições do livro são mais atuais do que nunca.
 
O que estamos vivendo hoje em nosso país, com os escândalos políticos sobre corrupção e abuso do poder, leva-nos a perceber todas as verdades dessa obra.
 
Não que antes não houvessem tais problemas. A questão é que as principais ideologias da bandeira do PT sempre foram a ética, a justiça e a igualdade. No entanto, ao assumir o poder, o que se mostrou foi uma linha diversa daquilo que era pregado. A idéia da estrela vermelha era ter o povo no poder, tal como no livro de George Orwell. Mas, quando se chega lá em cima, os comandantes se esquecem dos liderados.
 
O interesse aqui não é gerar uma discussão sobre ideologias políticas nem de levantar suspeitas em torno do presidente da República, se sabia ou não das estripulias dos petistas, da sua mais absoluta confiança, em montar um esquema com Marcos Valério (a estimativa é de que R$ 1 bilhão, a essa altura, seria o montante dos recursos públicos levantados por suas empresas, conforme noticiado) para que o Partido dos Trabalhadores executasse seu "megalômano" projeto político de ficar 20 anos no poder.
 
Mas o momento nos permite mostrar como podemos ser facilmente corrompidos pelo poder graças às facilidades e aberturas que se apresentam.
 
Fazendo uma outra analogia, também podemos nos lembrar do filme "O Todo-Poderoso", dirigido por Tom Shadyac e estrelado por Jim Carey e Morgan Freeman. Carey é um jornalista que, apesar de um bom emprego, um bom apartamento e uma namorada que o ama, julga-se infeliz, com uma vida medíocre e esquecido por Deus.
 
Percebemos claramente que a personagem não valoriza aquilo que já conquistou, querendo sempre mais e, quando não consegue a vaga de âncora para o telejornal da emissora de TV, ele sai pelas ruas blasfemando. Então, encontra-se com Deus que lhe delega todos os seus poderes.
 
Isso mesmo! O jornalista agora é Deus, assumindo todas as responsabilidades do "cargo".
Porém, ao invés de tentar resolver - ou pelo menos amenizar - a vida de todos aqueles que rezam para Deus, ele se preocupa apenas com sua vida e seus problemas. E usa os poderes divinos somente para seu próprio interesse.
 
Fazendo uma análise geral, iremos perceber momentos em nossas vidas em que abusamos de nossa força para conquistar nossos anseios. Desde a criança birrenta pedindo um brinquedo até o chefe que manda fazer do jeito dele, o homem se utiliza de alguma forma de poder para ver seu desejo satisfeito.
 
O uso do poder só é válido quando seus propósitos têm valor moral e beneficiam a coletividade. E quem faz uso do poder precisa ter capacidade, ética e, principalmente, caráter. Inclusive, Abraham Lincoln disse que "quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder".
Todos podem sonhar com o poder e fazer uso dele. Desde que os fins sejam válidos.
 
E se Deus é mesmo brasileiro, que sejamos protegidos contra toda essa lama.
 
 
"Poderoso é aquele que é senhor de si mesmo."
Sêneca