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Ponderação

Ponderação

01/10/2005
Aproveitando o gancho do referendo sobre o desarmamento, julgo que cabe aqui mais uma colocação de até onde se estendem os limites daqueles que detêm o poder de influência da mídia, sejam políticos, empresários, marqueteiros ou personalidades conhecidas.
 
Ao que parece, apesar do grau de transparência e isenção de grande parte dos profissionais da imprensa, existe uma tendência para um lado da questão. Já percebemos que as CPIs perderam espaço e que o mensalão e conseqüente cassação dos políticos envolvidos não estão dando mais ibope.
 
Podemos perceber, mais descaradamente ainda, uma distância muito grande na qualidade das campanhas contra e a favor do desarmamento. Na primeira, temos algo bastante simples e, sabendo daquilo que é possível com a tecnologia, parece ser uma campanha quase "caseira". Pendendo para o lado do desarmamento, temos uma campanha de investimento considerável, com participação de artistas da música e atores globais.
 
Conhecendo o povo brasileiro, de sua declarada paixão às novelas e a seus intérpretes, de que - no auge de sua humildade e simplicidade - prefere estar do mesmo lado das personalidades conhecidas, tem-se uma noção de qual lado deverão estar. Os artistas, por sua vez, necessitam do apoio da mídia para divulgar seu trabalho. E daí decorre o "toma lá, dá cá".
No entanto, parece que alguns veículos de comunicação e mesmo políticos não estão com intenção de mostrar toda a situação.
 
Não está sendo mostrado, por exemplo, que os dois principais institutos pró-desarmamento da população honesta, Viva Rio e Sou da Paz, tiveram problemas legais motivados pelos recursos financeiros que recebem do exterior, demonstrando um lobby de interesses. Será que isso não deveria gerar notícia para nossos órgãos de mídia? Além disso, também existem denúncias contra um dos diretores do Viva Rio de ligação no tráfico de drogas. Certamente, contando com a qualidade e perspicácia dos excelentes jornalistas investigativos, seria possível levantar e expor as informações a respeito do aporte de dinheiro estrangeiro para manter campanhas que atingem os direitos do brasileiro.
 
Emprestando algumas palavras do psiquiatra e educador Içami Tiba: "...o Governo, através de uma inteligente manobra de massas, vende ao povo a idéia que são as armas de fogo as culpadas pela violência e, numa eficiente estratégia de marketing, mata dois coelhos com uma cajadada só: demonstra estar adotando providências contra a criminalidade e esconde sua incapacidade de lidar com a situação da violência desmedida em que se encontra nosso país. Mais que isso, o governo, afasta de si a responsabilidade e a transfere ao povo, através de uma pergunta simpática à primeira vista, pela qual já vem fazendo uma campanha oculta há muito tempo. Assim, no futuro, quando a violência e criminalidade não diminuírem, sempre restará a resposta de que a vontade do povo foi cumprida."
 
Lembrando da campanha presidencial de Fernando Collor, também podemos perceber que a balança dos veículos de comunicação parecia pender para um lado. Afinal, quem era mesmo o tal "Caçador de Marajás", lançado pelo inexpressivo PRN? Ferrenho opositor ao Governo do então Presidente Sarney, líder dos "descamisados", boa pinta, atleta, Collor era mostrado como a verdadeira "salvação". Não preciso relembrar o desfecho dessa história mas, certamente, houve um notável trabalho de marqueteiros, assessorias de imprensa e veículos de comunicação.
 
E se você acha a influência da mídia é uma exclusividade brasileira, lembre-se de quem é o atual Governador da Califórnia, Estados Unidos: Arnold Schwarzenegger. "Ué! Mas esse cara não é ator?"
 
Quem teve a oportunidade de assistir ao filme "Bob Roberts", com roteiro, direção e interpretação de Tim Robbins ("Um Sonho de Liberdade"), lembra-se de um excelente exemplo disso tudo, uma vez que a obra representa uma crítica feroz ao meio político, mostrando como é possível influenciar veículos de comunicação, passando a imagem daquilo que o povo quer - ou imagina querer - ouvir. Trata-se de uma comédia em forma de documentário que satiriza o marketing político. Bob Roberts é um cantor popular que lança sua candidatura ao senado, aproveitando seu carisma com o público para expor posições reacionárias para o combate às drogas, mesmo estando envolvido com a pesada máfia do tráfico. Bob recorre à mais avançada tecnologia de informática e à influência que tem junto à mídia para construir uma campanha forte e, por diversas vezes, hipócrita.
 
Logicamente, mesmo com o enorme respeito que devemos ter com todas as classes de profissionais envolvidas em processos eleitorais e em questões político-sociais, fica a pergunta: até onde se estende o limite dos meios de comunicação, ciente de que a mídia desempenha papel cada vez mais importante na prática política?
 
 
 
 
"Podemos enganar alguns por todo tempo, todos por algum tempo, mas não podemos enganar todos por todo tempo."
Abraham Lincoln