Contam que, certa vez, duas borboletas caíram num copo de leite.
A primeira era forte e valente. Assim logo ao cair nadou até a borda do copo, mas como a superfície era muito lisa e ela tinha suas asas molhadas, não conseguiu sair. Acreditando que não havia saída, a borboleta desanimou parou de nadar e de se debater e afundou.
 
Sua companheira de infortúnio, apesar de não ser tão forte era tenaz, e continuou a se debater, a se debater e a se debater por tanto tempo que, aos poucos, o leite ao seu redor, com toda aquela agitação, foi se transformando e formou um pequeno nódulo de manteiga, onde a borboleta tenaz conseguiu com muito esforço subir e dali levantar vôo para um lugar seguro e prosseguir sua vida.
 
Durante anos ouvi esta primeira parte da história como um elogio à persistência que, sem dúvida, é um hábito que nos leva ao sucesso.
Tempos depois, ouvi um complemento a esse conto que também se faz bastante pertinente.
A borboleta tenaz, por descuido ou acidente, novamente caiu num copo com líquido.
Como já havia aprendido em sua experiência anterior, começou a se debater na esperança de que, no devido tempo, se salvaria.
 
Outra borboleta, passando por ali e vendo a aflição da companheira de espécie, pousou na beira do copo e gritou: "Tem um canudo ali, nade até lá e suba pelo canudo".
A borboleta tenaz não lhe deu ouvidos, baseando-se na sua experiência anterior de sucesso e continuou a se debater e a se debater, até que, exausta, afundou no copo cheio de água.
 
Quantos de nós, baseados em experiências anteriores, deixamos de notar as mudanças no ambiente e ficamos nos esforçando para alcançar os resultados esperados até que afundamos em nossa própria falta de visão?
 
Fazemos isso quando não conseguimos ouvir ou perceber aquilo que está de fora da situação e nos aponta como solução mais eficaz. Assim, perdemos a oportunidade de "reenquadrar" nossa experiência e ficamos paralisados, presos aos velhos hábitos, com medo de errar.
 
"Reenquadrar" é permitir olhar a situação atual como se ela fosse inteiramente diferente de tudo o que já vivemos.
"Reenquadrar" é buscar ver através de novos ângulos, de maneira a perceber que, fracasso ou sucesso, tudo pode ser encarado como aprendizagem.
 
Desta forma, todo o medo se extingue e toda experiência é como uma nova porta que pode nos levar à energia que precisamos, à motivação de continuar buscando o que queremos, à auto-estima que nos sustenta.
 
Na vida pessoal, por exemplo, é necessário se ajustar aos novos tempos. Certamente, sempre os pais julgam saber o que é melhor para seus filhos. Mas, em dado momento da vida, caso os genitores não estejam "antenados" com o mundo moderno, podem aconselhar baseados em suas experiências de anos atrás, quando viviam outros momentos, quando não existiam computadores, não haviam tantos perigos e violência, como tantas outras mudanças acontecidas. Por essa razão, é capaz que, por vezes, a forma dever as coisas seja deturpada.
 
Na vida profissional isso também acontece. Baseados em nossas experiências anteriores julgamos saber como fazer e como desenvolver as ações que conduzem os negócios. Com isso, deixamos de perceber outros ângulos e pontos de vista. Mantemo-nos dentro de nossos conceitos, daquilo que julgamos ser uma verdade absoluta, não apreciando outras percepções de colegas de trabalho.
É preciso romper com os nossos paradigmas, ver a situação pelos olhos dos outros e adaptar-se às mudanças.
 
Tornou-se comum as empresas afirmarem que possuem "foco no cliente" quando, na verdade, o correto seria ter "foco do cliente". Ocorreram grandes mudanças nos negócios quando empresas deixaram de ter foco nos seus produtos para focarem seus clientes. Agora estão descobrindo que têm que ir mais fundo e descobrir o que o cliente de fato quer: isso se chama ter foco no foco do cliente. Isto significa estar muito atento, penetrar fundo nas expectativas e aspirações, identificar precisamente o que os clientes querem, e aí atender e se possível superar estas expectativas, assegurando o encantamento. As empresas estão atentas a perceber seus produtos com a visão de quem os utiliza, isto é, do consumidor.
 
Converse, troque experiências, verifique se não vale a pena ter outros pontos de vista. A experiência é válida e, se realizada corretamente, trará grandes benefícios.
 
 
"Até um relógio parado está certo duas vezes ao dia. Após alguns anos, pode vangloriar-se de uma longa série de sucessos."
Marie von Ebner-Eschenbach