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Sementes da Verdade

Sementes da Verdade

01/05/2012
Embora alguns não gostem muito de parábolas, julgam-nas utópicas ou românticas demais, para a abordagem que desejo fazer julgo que este conto é extremamente pertinente.
 
Conta-se que, na China antiga, um príncipe estava as vésperas de ser coroado imperador mas, de acordo com a lei, ele deveria se casar. Sabendo disso, resolveu fazer uma disputa entre as moças da corte ou quem quer que se achasse digna de sua proposta e anunciou: "Darei a cada uma de vocês, uma semente. Aquela que, dentro de seis meses, trouxer-me a mais bela flor, será escolhida minha esposa e futura imperatriz da China."
A proposta do príncipe não fugiu as profundas tradições daquele povo, que valorizava muito a especialidade de "cultivar" algo, sejam costumes, amizades, relacionamentos, etc...
 
Uma jovem muito simples, que nutria sentimento de profundo amor pelo príncipe, embora não fosse de berço ou tivesse formosa beleza, decidiu que participaria do desafio, concorrendo com as mais belas moças, vestidas com as mais belas roupas, adornadas com as mais belas jóias e, também, com as mais variadas - e nem tão belas - intenções.
Mesmo cuidando com ternura e paciência de sua semente, por não ter muita habilidade na jardinagem, nada surgia no vaso da jovem. Dia após dia ela percebia cada vez mais longe o seu sonho, mas cada vez mais profundo o seu amor cultivado. Por fim, os seis meses haviam passado e nada havia brotado. Na hora marcada pelo príncipe, ela estava lá com seu vaso vazio, bem como todas as outras pretendentes, cada uma com uma flor mais bela do que a outra, das mais variadas formas e cores. Finalmente chega o momento esperado e o príncipe observa cada uma das pretendentes com muito cuidado e atenção. Após passar por todas, uma a uma, ele anuncia o resultado e indica a jovem como sua futura esposa.
 
As pessoas presentes tiveram as mais inesperadas reações. Ninguém compreendeu porque ele havia escolhido justamente aquela que nada havia cultivado. Então, calmamente o príncipe esclareceu: "Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma imperatriz. A flor da honestidade, pois todas as sementes que entreguei eram estéreis."
 
 
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Cortando agora para a realidade, o ponto que quero abordar para que reflexão diz respeito às necessidades urgentes do mundo corporativo: tudo é "para ontem" e o fim do mês é mais importante que o fim do mundo! Com isso, ninguém se planeja e passa o dia apagando incêndio. As premissas mercadológicas modernas exigem mais engajamento das empresas com a sociedade, mais responsabilidade no trato com seus parceiros e mais, muito mais, dedicação e atenção às necessidades do cliente.
 
Grandes corporações investem pesadamente em mídia, mas falham na entrega do produto ou serviço.
Médias organizações disputam espaço para penetrar no mercado e crescer, mas os investimentos são pesadíssimos.
Pequenas empresas focam no preço mais baixo para tentar um lugar ao Sol, aceitando uma posição de "não consigo mais".
 
É necessário entender - e principalmente, aceitar - que a empresa precisa, sim, de resultados a curto prazo, até mesmo para manter as portas abertas. Mas é o que ela vai fazer para alcançar a médio e longo prazo que determina as atitudes a praticar no dia-a-dia. O que é realizado hoje é que determinará o futuro. Ou, como diria Peter Drucker, "o planejamento não diz respeito a decisões futuras, mas às implicações futuras de decisões presentes".
 
E, somando a isso, também esbarramos na questão da verdade, ética e transparência, que muitos têm deixado de lado. E basta observar um pouco para perceber empresas propagando algo em que não desejam ou não querem que aconteça. Ou você realmente acredita que uma cervejaria quer vender menos, a partir do momento em que diz "beba com moderação". Isso é mentira, e das grandes. Por outro lado, se ela enfatizar outros apelos como "se beber não dirija" ou "escolha o motorista da vez", aí sim teremos uma autêntica verdade, pois ela continuará vendendo bastante.
 
E, cada um de nós, "jovenzinhas chinesas em busca do príncipe sonhado", ou empresas em busca de clientes para manter a estabilidade e permitir o crescimento, podemos sonhar... Mas também precisamos agir, com base num plano de ação concreto, com metas e objetivos bem definidos, estratégias e táticas determinantes e de acordo com as necessidades de cada um.
 
Fora disso, será apenas um conto chinês.
 
 
 
 
"Dois excessos: excluir a razão e não admitir senão a razão”.
Blaise Pascal