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Sigam-me os Bons

Sigam-me os Bons

01/02/2013
Durante os meses de dezembro e janeiro muitos amigos, clientes e parceiros perguntaram-me que modelo de empresa ou estratégia de sucesso deveriam adotar para os tempos vindouros. A todos respondia que cada empresa é única, com seu alinhamento empresarial, valores, objetivos e cultura. Ou seja, cada uma precisava criar e desenvolver seu próprio modelo ou estratégia conforme suas necessidades e metas.
 
Corroborando isso, o italiano Domenico De Masi, sociólogo italiano autor de "O Ócio Criativo", em entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura, também afirmou algo similar. Ao abordar a questão, ele disse que o Brasil adotou o modelo de negócio europeu por 450 anos e, nos 50 anos seguintes, o modelo das "business schools americanas". Percebemos, pela situação econômica exterior, que tais formas de gestão se mostraram ineficientes e por isso o Brasil necessitava desenvolver uma forma própria de gestão e, quem sabe, ensiná-la ao mundo. Aliás, você encontra essa entrevista completa no Youtube - vale a pena.
 
Prestes a escrever este artigo, lembrei-me de um texto que também tratava dessa questão e que reproduzo na íntegra, com a devida autorização do autor Mario Persona, consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras (veja em www.mariopersona.com.br)
 
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Talvez você nunca tenha ouvido falar do ator mexicano Roberto Gomes Bolaños, mas com certeza já assistiu um episódio de Chapolin. Com suas anteninhas e olhar assustado de barata, o herói mais feio, covarde e atrapalhado da TV é também o mais querido das últimas gerações em mais de quarenta países. Entre seus fãs está Matt Groenig, criador dos Simpsons, que homenageia o herói em alguns de seus desenhos.
 
O segredo do sucesso de Chapolin está em não seguir os outros super-heróis. A única semelhança com eles está na cueca vestida por cima das calças, mas é só. No mais, Chapolin é diferente. Se os super-heróis são bons, Chapolin é excelente. "Sigam-me os bons", diz ele que é muito melhor. "Não contavam com minha astúcia", proclama o ingênuo Don Quixote moderno brandindo sua marreta biônica.
 
"Cervantes escreveu Don Quixote como uma crítica aos romances de cavalaria e, guardando as devidas proporções, criei Chapolin como o anti-herói latino-americano, uma resposta aos Batmans e Super-Homens que nos invadem vindos do Norte", revela Roberto Gomes Bolaños, criador e incorporador do herói-palhaço.
 
Ao invés de reles seguidor de padrões enlatados, Bolaños partiu para o inusitado, o ridículo, o desprezado. Um viés evitado por quem teme abandonar a segurança do pasteurizado, homogeneizado e consagrado, sob o pretexto de não reinventar a roda. Essa posição cômoda também pode ser encontrada em algumas estratégias de marketing, às quais falta a ousadia de um Chan Kong-sang. Mas quem é Chan Kong-sang?
 
Como Bolaños, Chan Kong-sang criou e incorporou um herói diferente do padrão Bruce Lee de pancadaria oriental. Jackie Chan, seu personagem, rói as unhas nos momentos de perigo, apanha muito e se machuca de verdade. Mas, entre mortos e feridos, salvam-se todos nos filmes que costumam terminar com cenas dos erros de filmagem. Algo que jamais veremos num fleumático Bond - James Bond.
 
Chapolin e Jackie Chan são casos de sucesso por não seguirem casos de sucesso. Traçaram seus próprios caminhos e criaram seus próprios estilos. Do mesmo modo como fizeram as empresas cujos casos de sucesso insistimos em copiar. Atendemos cegamente quando elas nos chamam: "Sigam-me os bons!". Seguimos e acabamos sendo, no máximo, bons. Nunca excelentes.
 
"Se você quiser que seus funcionários façam um bom trabalho, diga a eles o que você quer e encoraje-os a acertar. Se quiser funcionários que façam um excelente trabalho, diga a eles o que você precisa e dê permissão para que errem", escreveu Richard Kessler.
 
Quem segue é seguidor. Jamais poderá ultrapassar quem está na frente. Obviamente há líderes que preferem que seja assim, para não perder a posição. O dilema dos clones humanos não está na possibilidade de alguém criar pessoas com uma capacidade excepcional, mas ao contrário, criar seguidores medíocres.
 
A mesma sugestão dou aos meus alunos e clientes. Não sejam seguidores das grandes marcas. Elas só se tornaram grandes marcas por não seguirem algum caso de sucesso, mas por desbravarem uma rota virgem. Cada uma delas criou o Don Quixote, Chapolin ou Jackie Chan de seu segmento, assumindo os riscos do ridículo para se transformarem em modelos de sucesso.
 
Se quiser ser bom no que faz, siga algum modelo de sucesso. Se quiser ser excelente, crie seu próprio modelo. Ainda que para isso precise se vestir de palhaço, expor publicamente suas fraquezas e amargar as conseqüências de seus fracassos.
Se fizer assim, é provável que nunca chegue a ser o Capitão América de seu segmento, o que pode até ser uma vantagem. O mercado dá sinais de estar cansado dessa jactância de poder e busca por algo mais simples, informal e genuíno. Será você o próximo super-herói? Se for, seja diferente dos outros super-heróis, até do Chapolin.
Vista suas cuecas sob as calças.
 
 
 
"Não contavam com a minha astúcia!" 
Roberto Gomes Bolaños, o Chapolin