Loading

5515997072254
Um Elefante Incomoda Muita Gente

Um Elefante Incomoda Muita Gente

01/04/2013
Maria Alice Vergueiro, pedagoga, professora universitária e atriz de teatro, conta que, por volta de 1988, época de abertura democrática em que nos desvencilhávamos da censura, ela e Cacá Rosset iniciavam nova empreitada: a peça "O Doente Imaginário", de Molière.
 
Lembra a atriz que, no tempo do referido autor, época de Luís XIV, era comum circularem pelas cidades e ambientes palacianos, desde artistas mambembes, saltimbancos e bufões a curiosas atrações do Oriente. Assim, os idealizadores da peça pensaram que seria emblemático "encenar Molière em uma construção neoclássica francesa, operística, historicamente elitista e, ao mesmo tempo, popular", como conta a atriz.
 Da mesma forma que a montagem, cenários e figurinos, a divulgação também precisava estar à altura. À altura de um elefante, pensaram os empreendedores teatrais. Afinal, era preciso ousar também na comunicação. O plano era que a artista desfilasse pelas ruas de São Paulo montada no simpático paquiderme, símbolo indiano de sabedoria, inteligência e das artes.
No entanto, a autorização para tal espécie de promoção não foi concedida, valendo lembrar que nessa época ainda não existiam as leis de restrição ao uso de animais em eventos, publicidade, promoções e afins.
 
Mas a ideia inicial era boa e não poderia ser deixada de lado. E assim foi buscada uma alternativa num circo, onde os atores foram clicados sobre um elefante e a foto circulou nos principais jornais. Enfim, mesmo que a ideia original não tenha se materializado, o objetivo foi conquistado.
 
Toda essa história serviu para enfatizar um fato que, costumeiramente, observo nas mais variadas empresas: a censura em relação às novas ideias.
  
Seja em reuniões executivas para geração de oportunidades ou em etapas de pré-planejamento, normalmente realizadas no conhecido modelo "brainstorm" ou "toró de parpite", alguém já começa falando: "vamos sugerir, mas sem viajar muito". Ou então, "isso não pode, nem aquilo". Consequentemente, aqueles milhões de neurônios de todos os participantes da reunião recebem um balde de água fria. As ideias já estão cerceadas, os limites estabelecidos. E a consequência é que não surge nada de novo.
 
Essa situação conduz à estagnação, ao conformismo e à zona de conforto. Leva-nos em direção aquele obstáculo que tanto tentamos combater: "aqui sempre foi feito assim" ou "aqui nada dá certo, nem adianta tentar".
 
E isso vale para qualquer área da empresa. Ideias podem vir de quaisquer setores, de todos os colaboradores. Muitas vezes, o princípio que surge de algo inusitado pode levar a grandes realizações. Basta pensar na "cola que não cola", que deu origem ao post-it, um dos ícones da marca 3M.
 
Pense nessa situação. É certo que muitas ideias precisam ser lapidadas, mas permita que os profissionais que estão ao seu lado dêem asas à imaginação. Numa etapa posterior ao brainstorm, às sugestões, acontecerão as fases de validação da ideia, de executabilidade e de viabilidade.
 
Não seja um ditador em sua empresa. Às vezes uma ideia paquidérmica pode lhe trazer o mesmo volume de visibilidade e, quem sabe, lucratividade.
 
 
 
"Um elefante deixa-se acariciar. O piolho, não."
Lautréamont