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Um Show de Mudanças

Um Show de Mudanças

01/10/2002
Foram colocados em uma jaula três macacos, com uma mesa no centro. Sobre a mesa, foi pendurada uma banana. Cada vez que um dos macacos tentava alcançar a fruta, um dispositivo dispara uma carga elétrica no animal, que se refugiava no canto da sala. Assim, cada vez que um dos macacos tentava chegar à banana, tomava um choque. Sempre que um dos macacos chegava perto da mesa, os outros animais já começavam a fazer barulho para lembrar das consequências do ato. E não se chegava mais perto da mesa. Então, um dos macacos foi retirado da jaula, sendo colocado outro no lugar. Quando o macaco novo estava com fome, aproximou-se da mesa. Os dois macacos “com mais tempo de jaula” fizeram enorme algazarra para que o “macaco novo” não se aproximasse da mesa. Mesmo sem entender o porquê, ele acatou o conselho, afinal, os outros tinham mais experiência. Posteriormente, os dois macacos mais velhos foram trocados por novos e, cada vez que um animal tentava chegar à fruta, ora vejam: aquele primeiro macaco que fora trocado era quem iniciava os barulhos. No entanto, o dispositivo que emitia choques já havia sido desligado quando houve a primeira troca de animais. Porém, foi criada uma situação em que todos tinham medo de mudar, pois julgavam saber as consequências dos atos. E ela foi aceita de tal forma que era preferível passar fome, ao invés de realizar uma nova tentativa de se chegar à banana.
 
No filme “O Show de Truman”, dirigido por Peter Weir, com o ator Jim Carrey, essa situação também é retratada.
 
A produção conta a história de Truman Burbank, um jovem rapaz que teve toda sua vida exibida pela televisão. Ou melhor, desde o seu nascimento, ele vive num mundo de fantasia, em que esposa, amigos, cenário e fatos da vida são manipulados pelo diretor do show, Cristoff (interpretado por Ed Harris), para criar novas situações para os espectadores. Tudo feito com muito cuidado para que Truman não perceba que sua vida inteira está sendo filmada continuamente.
No entanto, Truman começa a desconfiar da vida que leva na fictícia ilha de Seahaven, um cenário especialmente criado para o espetáculo. Para que ele não desejasse sair da ilha, a mãe vivia ficando doente para que o filho não a abandonasse, além de inventar a história de que o pai de Truman havia sido vítima de uma acidente marítimo.  Assim, o jovem estava restrito à ilha de Seahaven.
 
Acredito que um dos grandes alertas, tanto do filme quanto da história dos macacos, está no fato de que é muito mais fácil aceitarmos o cotidiano, seguirmos caminhando com o dia-a-dia, não nos sujeitando nem almejando mudanças. E, infelizmente, essa atitude passiva e comodista, que muitas vezes não nos agrada, continua sendo tomada.
 
Na verdade, isso ocorre porque temos diversos paradigmas sociais, profissionais, pessoais, familiares, aos quais temos medo de quebrar. São tabus que nos fazem desacreditar na possibilidade de mudanças.
 
Stephen Covey, em sua obra “Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes”, ilustra paradigmas como “modelos, teorias, percepções, pressupostos ou padrões de referência. Em um sentido mais geral, é a maneira como vemos o mundo - não no sentido visual, mas sim emtermos de percepção, compreensão e interpretação... Os paradigmas criam as lentes pelas quais vemos o mundo”.
 
Assim, muitas atitudes que a sociedade ou empresa exigem, estão embasadas por paradigmas, isto é, por uma determinada visão da situação. E, na maioria das vezes, aceitamos o fato sem questionar ou mesmo sem pensar em alterar a ordem das coisas. Em verdade, temos receio de quebrar e romper com os paradigmas.
 
Não estou querendo dizer que temos que mudar as coisas na política (ainda mais agora com as eleições), na religião, na empresa ou em nossa casa. A mudança que proponho é muito maior: é uma mudança pessoal, interna, própria, de dentro para fora. Quando existem paradigmas, que são circunstâncias externas ao nosso íntimo, encontramos pessoas descontentes, que se sentem imobilizadas, que têm foco nos problemas externos e nas situações que, na opinião delas, é responsável pela sua estagnação. Assim, fica mais fácil aceitar as ocorrências, condenando o Governo, a globalização, o patrão, a família... Ainda fazendo alusão à Stephen Covey, “as pessoas se convencem de que o problema está nos outros, e se eles (ou seja, os outros) pudessem repentinamente entrar na linha ou desaparecer da face da Terra, a questão estaria solucionada”.
O caminho está aberto às mudanças. E somente nós podemos providenciá-las. Sugiro que assista - ou reveja - “O Show de Truman”, que representa um libelo contra os paradigmas, que nos mostra as possibilidades de uma libertação.
 
O ser humano tem uma característica que o distingue dos animais e que representa todas as possibilidades de mudança. Afinal, somente o homem é dotado de liberdade de escolha. Faça a sua.
 
 
 
“É impossível haver progresso sem mudança. E quem não consegue mudar a si mesmo não muda coisa alguma”.
George Bernard Shaw