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Velhos Hábitos

Velhos Hábitos

01/08/2013
Charles Dickens escreveu que "o homem é um animal de hábitos".
E desvencilhar-se de hábitos é algo extremamente difícil.
Não falo somente dos nossos comportamentos repetitivos pessoais, como tomar café, escovar os dentes, itinerários, etc.
Afinal, também temos inúmeros hábitos profissionais que conduzem nossa vida no trabalho. Alguns são positivos e nos levam à otimização de tempo e ganho de produtividade; outros, entretanto, são extremamente nefastos por criarem uma barreira à evolução e maior rendimento.
 
Relendo um artigo de Marina Pechlivanis, sócia-diretora da Umbigo do Mundo e Mestra em Comunicação e Práticas de Consumo, deparei-me com a informação do estudo "Habits - A Repeat Performance" (David T. Neal, Wendy Wood e Jeffrey M. Quinn, da Duke University).
Segundo esse trabalho, 45% de nossos comportamentos diários são hábitos e não decisões de livre arbítrio, desde que efetivadas nos mesmos contextos: ler jornal, fazer exercícios, alimentar-se. São rotinas neurológicas que nos permitem executar tarefas de forma repetitiva, sem precisar pensar.
"Hábitos nos mantêm fazendo o que sempre fizemos, apesar de nossas boas intenções de fazer de outra forma", dizem os autores.
 
Charles Duhigg, autor de "O poder do hábito: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios?", mencionou que hábitos podem ser "ignorados, modificados e substituídos", reiterando que uma vez o sulcro registrado e o hábito implementado, o cérebro reduz sua participação no processo de decisão. Então, ou você briga com o hábito ou entra no "piloto automático".
 
Por que isso acontece?
Porque o comportamento fica registrado na memória num circuito de três fases:
• uma certa situação-gatilho ativa as rotinas gravadas nos gânglios basais.
• depois vêm as recompensas: dopamina, a molécula do prazer, que traz uma sensação de conforto, de ter feito a coisa certa.
• e, quanto mais repetimos, mais sulcada fica a memória e menos temos de pensar, economizando energia.
 
Toda essa informação foi para mostrar a importância e o poder dos hábitos.
E, como falei no início, esses comportamentos podem ser positivos ou não. Mas, quando são prejudiciais, dificilmente percebemos seus efeitos e, quando soa um aviso alertando dos efeitos negativos, automaticamente também rejeitamos tudo o que poderia nos convencer a sair da zona de conforto.
E aí nos tornamos profissionais intransigentes, donos da verdade; não aceitamos coisas novas por melhores que sejam.
 
Essa reflexão, seja pessoal, profissional ou organizacional (pois empresas também têm hábitos), é obrigatória e necessária.
É ela quem conduz à inovação. Afinal, numa sociedade de serviços, a inovação está no entendimento dos processos diante da nova ordem.
 
Uma última informação.
Convencionou-se chamar pessoas limitadas de inteligência de "anta". Sabe por que?
Segundo os caçadores, esse animal tem o hábito de usar sempre o mesmo caminho para beber água.
Assim, basta encontrar a trilha e ficar esperando o bicho passar para abatê-lo.
Então, eu pergunto: vamos continuar sempre no caminho que o hábito nos conduz?
 
 
 
"A persistência de um costume está, geralmente, em relação direta com o seu absurdo."
Marcel Proust