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Ver e Não Ver

Ver e Não Ver

01/04/2018
Em 1995, o neurologista Oliver Sacks escreveu a obra Um Antropólogo em Marte, que traz histórias paradoxais de profunda reflexão científica e comportamental. E uma dessas histórias - Ver e Não Ver - foi retratada no filme “À Primeira Vista”, estrelado por Val Kilmer e Mira Sorvino.
O artigo e a película abordam a vida real de Virgil Adamson, que foi cego durante praticamente toda a vida e, aos cinquenta anos, submeteu-se a uma cirurgia experimental que lhe restaurou a visão.
 
O que soa de interessante, e um dos pontos que podemos fazer analogia às nossas vidas pessoais e profissionais, é como nem sempre o que é bom para a grande maioria é o ideal para alguém. Imagine as dificuldades enfrentadas por Virgil em sua readaptação, vivendo toda uma nova realidade, até então desconhecida para ele. Associar sons facilmente identificáveis a imagens inimagináveis, reaprender noções de espaço, identificar cores e formatos, (re)conhecer o que já lhe era familiar de outra forma  e, além de tudo isso, desenvolver uma coordenação envolvendo olhos, mente e visão.
 
O grande desafio é abandonar velhos paradigmas, rever padrões ou comportamentos cristalizados e, principalmente, desaprender tudo o que conhecia para aprender de novo e de uma forma inteiramente diferente para conseguir interpretar um novo mundo à sua volta.
 
Agora transfira isso para as mudanças que empresas e pessoas por vezes adotam, pregando uma ruptura drástica com tudo o que se praticou até então. Nas organizações, um novo software de controle, a implantação de um procedimento de qualidade, regras impostas por um novo líder... Aos indivíduos, a perda de entes queridos, os desenlaces amorosos, as dificuldades diante de novos campos do conhecimento... Tudo isso provoca enorme ruptura com o que foi aprendido e realizado até aquele momento.
 
Pessoas pregam novos comportamentos. Porém, ações exigem pensamentos condizentes com elas.
Empresas falam em mudança de cultura organizacional. Mas cultura não muda, evolui.
Não é difícil de perceber isso. Mas como preferimos seguir o “Efeito Zeca Pagodinho”, deixamos que a vida nos leve, sem ver o que é realmente importante, não aprofundando a visão aquilo que é de nosso interesse.
 
O verdadeiro crescimento se faz com desenvolvimento, conhecimento, inovação, evolução. Sempre mudando o que tem de ser mudado, trazendo à tona a aplicação de uma série de mudanças já depreendidas e assimiladas.
Mutatis mutandis.
 
 

“Olhos que olham são comuns. Olhos que veem são raros”.
  John Oswald Sanders