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Lição de Mestre

Lição de Mestre

01/12/2009
Muitas empresas, em seus processos de treinamento, utilizam-se de treinadores voluntários formados pelos próprios colaboradores. Normalmente esse grupo é coordenado por um chefe de treinamento, seja ele interno ou não à empresa. Conta-se uma história a respeito de um grupo em uma multinacional que relato a seguir.
 
Um dia, o grupo de treinamento se reuniu para discutir a melhor forma de ministrar um curso para cerca de 200 funcionários. Estava claro que o método convencional, colocando todos numa sala, não iria funcionar, já que o professor insistia na necessidade da interação, impraticável com um público daquele tamanho.
 
Como sempre acontece nessas reuniões, a imaginação voou longe do objetivo, até que, lá pelas tantas, uma colega propôs usar um trecho do Sermão da Montanha como tema do evento.
 
E o professor, que até ali estava meio quieto, respondeu de primeira. Aliás, pensou alto:
- Jesus era peripatético...
 
Seguiu-se uma constrangida troca de olhares, mas, antes que o hiato pudesse ser quebrado por alguém com coragem para retrucar a afronta, dona Dirce, a secretária, interrompeu a reunião para dizer que o gerente de RH precisava falar urgentemente com o professor. E lá se foi ele, deixando a sala à vontade para conspirar.
 
- Não sei vocês, mas eu achei esse comentário de extremo mau gosto - disse a Laura.
- Eu nem diria de mau gosto, Laura. Eu diria ofensivo mesmo - emendou o Jorge, para acrescentar que estava chocado, no que foi amparado por um silêncio geral.
- Talvez o professor não queira misturar religião com treinamento - afirmou Sales, o mais ponderado de todos. Mas eu até vejo uma razão para isso...
- Que é isso, Sales? Que razão?
- Bom, para mim, é óbvio que ele é ateu.
- Não diga!
- Digo. Quer dizer, é um direito dele. Mas daí a desrespeitar a religiosidade alheia...
 
Cheio de fúria, o grupo malhou o professor durante uns dez minutos e, quando já o sentenciavam à fogueira eterna, ele retornou. Mas nem percebeu a hostilidade. Já entrou falando:
- Então, como ia dizendo, podíamos montar várias salas separadas e colocar umas 20 pessoas em cada uma. É verdade que cada treinador teria de repetir a mesma apresentação várias vezes, mas... Por que vocês estão me olhando desse jeito?
 
- Bom, falando em nome do grupo, professor, essa coisa aí de peripatético, veja bem...
 
- Certo! Foi daí que me veio a idéia. Jesus se locomovia para fazer pregações, como os filósofos também faziam, ao orientar seus discípulos. Mas Jesus foi o Mestre dos Mestres, portanto a sugestão de usar o Sermão da Montanha foi muito feliz. Teríamos uma bela mensagem moral e o deslocamento físico... Mas que cara é essa?...Peripatético quer dizer o que ensina caminhando.
 
E todos ali, encolhidos de vergonha. Bastaria um colaborador do grupo ter tido a humildade de confessar que desconhecia a palavra que o resto concordaria e tudo se resolveria com uma simples ida ao dicionário. Simplesmente "patético".
 
É possível identificar essa situação várias vezes por dia numa mesma empresa. Pessoas discutindo sem saber dos porquês, das razões, dos objetivos... Então, ao iniciar uma discussão ou apresentar um projeto, em primeiro lugar, coloque o problema às claras, com objetividade, esclarecendo todas as dúvidas. Somente a partir daí é possível prosseguir.
 
 
 
"Para quem tem medo, tudo range."
Sófocles